terça-feira, março 06, 2012

Novas edições:
Andrew Bird, Break It Yourself


Andrew Bird
“Break It Yourself”

Bella Union
4 / 5

Foi num celeiro que o disco nasceu. De facto. E em duas sessões distintas, uma primeira em 2010, a segunda no verão de 2011, das duas surgindo o lote de canções que agora encontramos em Break It Yourself, disco que segue, com tranquilidade, o caminho que Andrew Bird tem vindo a talhar em nome próprio. A sua música não é contudo coisa que se feche numa única linha de acontecimentos e, tal como em discos anteriores, entre os caminhos que definem as novas canções ora surgem ecos do trabalho para violino (que tinha maior protagonismo nos dias do fabuloso The Mysterious Production of Eggs) ora os interesses pelos trilhos indie folk (que também por essa altura se mostram bem visíveis) e uma curiosidade por outras formas musicais que, com maior ou menor visibilidade têm surgido no espaço da música (recorde-se por exemplo a incursão por terrenos distantes das geografias da canção que abordou em Useless Creatures, o disco-companheiro de Noble Beast, de 2010, que entretanto teve edição independente). O álbum não foi fruto de um retiro criativo porque, na verdade, surgiu da soma de canções que (umas mais antigas outras mais recentes) ganharam forma nas duas já aqui referidas sessões de trabalho no seu celeiro, de Minneapolis vindo não apenas a uma equipa técnica como mesmo alguém que cozinhou extamente a mesma ementa, os sabores mantendo-se assim fiéis a uma continuidade entre os dois momentos. Pelo caminho Andrew Bird desenvolveu uma série de outros projetos, da escrita da música para Norman, filme de Jonathan Segal, a incursões por território “marreta” tendo assinado não apenas uma versão de Bein’ Green para o Green Album como colaborado no filme The Muppets para o qual compôs, entre outras, a canção The Whistling Caruso. Break It Yourself é tudo menos um momento de procura de outros azimutes, antes uma continuação do traçar gradual de uma voz criativa, que tanto se afirma entre a diversidade de coordenadas musicais acima levantadas, como pelos espaços muito particulares das reflexões sobre si mesmo e o mundo ao seu redor que moram entre estas canções. Este é um disco de cores suaves, porém feito de luz, que brilha mais ainda quando espreita pontualmente mares mais quentes em Danse Carribe, um dos melhores momentos do alinhamento tal como o é Lusitania, tema onde colabora Annie Clark (St. Vincent). Break It Yourself é um disco atento ao detalhe, elegante nos arranjos mas com o cuidado de não afogar nunca as canções numa cenografia que exceda as suas necessidades. Um Andrew Bird sem surpresas, portanto (o que é sinónimo de muito bom).