Memórias de filmes afastados daquelas listas habituais que fazem a conversa de todos os dias. Filmes "perdidos". Ou se preferirem, "filmes pedidos"... Hoje lembramos Sempre ('Always' no original) filme de 1989 de Steven Spielberg, que aqui é evocado por Luís Salvado, da Time Out. Um muito obrigado ao Luís pela colaboração.
Toda a gente tem a sua lista de filmes favoritos de Steven Spielberg. Há quem prefira os épicos de apelo à imaginação (e à lágrima) como ET O Extraterrestre e Encontros Imediatos do Terceiro Grau. Há quem escolha as montanhas-russas e de acção e emoção como os dois Parque Jurássico ou os quatro Indiana Jones. Há quem opte pelos dramas mais brutais, como A Lista de Schindler ou Munique. E até há quem diga que no início é que ele era bom, em fitas despojadas de efeitos como Duel ou Sugarland Express.
Pergunto-me sempre porque razão nunca alguém coloca o belíssimo Sempre nas listas de eleitos e porque diabo essa obra nunca é mencionada quando se tenta identificar o filme em que o olhar de adulto substitui o olhar de criança no cinema de Spielberg. Mais discreto mas mais profundo que os anteriores A Cor Púrpura ou O Império do Sol, em que a espectacularidade cinematográfica mascarava uma maturidade ainda não totalmente consolidada, Sempre apresentava um olhar marcadamente adulto sobre as relações amorosas, com Richard Dreyfuss no papel de um aviador que regressa dos mortos e retoma o contacto com a mulher da sua vida.
Despachado sem grande reflexão como uma lamechas fantasia romântica, Sempre é exemplar na forma como retrata a relação de um casal banal, em que o amor entre ambos se revela não em gestos grandiosos mas sim na forma como cada um deles gosta afinal das pequenas coisas que tornam o outro num ser diferente de todos os demais. E como na dor mais acutilante e na situação mais desesperada, é também pelo amor que a redenção se faz, num final infinitamente mais adulto e comovente que o do filme com o mesmo tema que, no ano seguinte, toda a gente aplaudiria, o muito menos conseguido Ghost, o Espírito do Amor.
Com um equilíbrio notável entre drama e comédia, Sempre, é um pequeno grande filme, mesmo no cânone de fitas notáveis de Spielberg, e além de recuperar o Smoke Gets in your Eyes, ainda dá o último papel no cinema a Audrey Hepburn, com uma personagem com aquela beleza etérea que lhe valeu a eternidade.