Abrimos hoje mais um mês temático no Sound + Vision. E ao longo de março vamos aqui encontrar memórias contadas na primeira pessoa. Memórias de filmes que estejam afastados daquelas listas habituais que fazem a conversa de todos os dias. Filmes "perdidos". Ou se preferirem, "filmes pedidos"... Começamos com Deep End, filme de 1970 de Jerzy Skolimowski, que aqui é evocado por Francisco Valente, jornalista do Público e autor do blogue Da Casa Amarela. Um muito obrigado ao Francisco pela colaboração.
Os filmes perdidos são aqueles que não se vêem na vida mas que encontram o seu lugar, em aparições constantes, na corrente do nosso imaginário. Obras deslumbradas em excertos e fotografias, lidas em sinopses e críticas que se descobrem por encontros ocasionais durante o dia e às quais acrescentamos o nosso olhar, palco de uma imaginação encenada em permanência pelos nossos desejos. Os filmes perdidos são aqueles que sobrevivem, portanto, bem no fundo: aí descobri Deep End de Jerzy Skolimowski, realizador que se viu obrigado a fugir do seu país natal para escapar à censura imposta às suas obras e aos seus sonhos. Em Londres, Skolimowski filma a juventude de um rapaz no meio de uma cidade nocturna, suja e desviante, em que a sua apaixonada obsessão - uma Jane Asher de longos cabelos ruivos - perturba a sua timidez e questiona os seus impulsos. Um filme em que o universo pessoal, idílico e romântico de uma juventude vive contra a dura realidade de vida do seu crescimento, ou a descoberta que a nossa moral e inocência contrastam com a forma como são vistas pelo objecto do nosso desejo, já sabedora dos caminhos em que a inocência não é mais que um passado perdido que não se recupera, tal como a primeira visão do nosso filme perdido.