quinta-feira, março 08, 2012
Filmes pe(r)didos:
Cruel, de Mikael Hafström
por João Moço
Memórias de filmes afastados daquelas listas habituais que fazem a conversa de todos os dias. Filmes "perdidos". Ou se preferirem, "filmes pedidos"... Hoje lembramos Cruel ('Ondskan' no original) filme de 2003 de Mikael Hafström, que aqui é evocado por João Moço, jornalista do DN e autor do tumblr Movimentos Oblíquos. Um muito obrigado ao João pela colaboração.
A primeira vez que vi Cruel/Ondskan ainda foi numa das salas do Cinema Quarteto. Apesar de só um ano depois me ter mudado de vez para Lisboa, estas visitas à capital tornavam-se um hábito cada vez mais constante, como que um refúgio para apagar de vez um ambiente castrador que merecia ser esquecido. Tal como o jovem de 16 anos Erik Ponti (Andreas Wilson) do filme, que imagina numa primeira instância como será a sua nova vida no colégio interno, obrigando-se a uma regeneração individual, longe daquilo e daqueles que alimentavam a extrema agressividade que evidenciava até então. No entanto, primando o filme pelo seu impecável realismo, torna-se desde logo claro que a concretização desse desejo de uma nova vida dá lugar ao cru desencanto que é um dado inevitável da condição humana.
Vi o filme completamente sozinho na sala de cinema, o que só potenciou o profundo impacto emocional da história realizada por Mikael Hafström. Passados sete anos desde esse dia, Cruel/Ondskan mantém-se um excelente retrato da violência e da crueldade da adolescência e dos adolescentes, através de uma visão bastante íntima (mas não menos tensa) de como tudo isto é vivido através do protagonista, Erik Ponti. E apesar da violência e da crueldade anteriormente referidas serem potenciadas pelo espaço temporal em que a história se desenrola (na Suécia do pós-Segunda Guerra Mundial, com a sombra do nazismo ainda bem presente nas condutas sociais), não deixam de ser profundamente realistas na sua assunção.