quarta-feira, março 07, 2012

Bruce Springsteen 2012 (1/2)

Com o 17º álbum de estúdio, Bruce Springsteen reafirma o seu lugar central na história do rock made in USA: um discípulo da tradição que, num misto de ternura e crueldade, continua a olhar para o seu presente — este texto foi publicado no Diário de Notícias (5 Março), com o título 'Bruce Springsteen canta o desencanto americano'.

No panorama global da música popular e, em particular, no vasto território do rock, Bruce Springsteen (62 anos) continua a ser um dos grandes resistentes. Fiel a um registo em que as componentes mais espectaculares nunca contrariaram uma militante relação com a tradição folk, a sua obra mantém uma atenção crítica à história contemporânea da América e, sobretudo, às condições de vida das classes mais desfavorecidas. Com o lançamento de Wrecking Ball, o seu 17º álbum de estúdio (5 de Março na Europa, dia 6 nos EUA), Springsteen vem reafirmar a lógica mais funda da sua carreira: são onze canções (treze na edição especial) compostas por um genuíno “rocker”, sempre atento aos dramas do nosso tempo e, em especial, às convulsões da economia.
As relações de Wrecking Ball com as memórias do próprio Springsteen e da sua E Street Band começam no facto de este álbum constituir uma derradeira homenagem ao saxofonista Clarence Clemons. Falecido em 2011, Clemons acompanhou-o desde 1972 (é ele que surge ao lado de Springsteen na capa do lendário Born to Run, o álbum de 1975 que projectou de forma decisiva o nome do seu criador), figurando ainda em duas faixas de Wrecking Ball: a canção-título e Land of Hope and Dreams. Da formação da E Street Band, participam ainda Steven Van Zandt (guitarra), Max Weinberg (bateria) e a mulher de Springsteen, Patti Scialfa (guitarra e voz).
Datado de 1998, Land of Hope and Dreams [video: Barcelona, 2002] surge, precisamente, como o tema mais antigo: serviu, aliás, como emblema de uma digressão (“Reunion Tour”, 1998/99) que, depois da “suspensão” da E Street Band, consumada com o álbum The Ghost of Tom Joad (1995), promoveu o reencontro de todos os seus elementos. Na sua maioria, as canções de Wrecking Ball foram compostas ao longo do ano de 2011, reflectindo um evidente desencanto face ao agravamento das condições económicas de importantes sectores da população americana, nunca perdendo de vista uma noção de família que, nos poemas de Springsteen, cruza sempre as histórias particulares com a dimensão nacional. É essa, aliás, a mensagem implícita em We Take Care of Our Own (à letra: “Tomamos conta dos nossos”), primeiro single do álbum, estreado ao vivo, a 12 de Fevereiro, na 54ª edição dos Grammys.
Wrecking Ball vai ser o impulsionador de uma nova digressão, a começar a 18 de Março, na Philips Arena, de Atlanta. A 13 de Maio, no Estádio Olímpico de Sevilha, inicia-se o capítulo europeu de uma série de concertos que vai passar, entre outras cidades, por Lisboa, Paris e Praga. Que é como quem diz: “The Boss” está de volta.