terça-feira, fevereiro 28, 2012

O sistema solar (em alta definição)


A história já foi contada. E bem contada, por Carl Sagan, no inesquecível Cosmos, série (e depois também livro) que ficou na história do documentarismo televisivo como um dos episódios mais marcantes da divulgação científica no pequeno ecrã (e é ainda hoje a produção da PBS, o canal público americano, de maior sucesso à escala global). Mas passaram mais de 30 anos desde que, a bordo da sua nave imaginária (e ao som da música de Vangelis), Carl Sagan caminhava entre os satélites de Júpiter, os abismos do Velles Marineris (em Marte) ou nos explicava a equação de Drake (que tenta avaliar o número possível de civilizações na galáxia). Ou seja, não só o conhecimento científico sobre o mundo em que vivemos e o universo em nossa volta aumentou significativamente, como temos novas imagens de mundos que nos dias de Cosmos ainda não tinham sido visitados por sondas com a capacidade de nos mostraram o que ali se escondia, assim como a tecnologia de efeitos visuais permite hoje completar o que o Homem já viu com recriações digitalmente criadas do que ainda está por ver ou que, em certos ângulos e movimentos de câmara, as nossas máquinas ainda não alcançaram.

Estes três podem ser os primeiros argumentos para abrir a curiosidade sobre Wonders Of The Solar System, a série que o físico Brian Cox apresenta e que resulta de uma co-produção da BBC com o Science Channel. Inicialmente exibida em 2010, a série propõe um panorama do nosso sistema solar em cinco episódios de 60 minutos cada. Não numa lógica de arrumação sistemática, planeta a planeta, satélite a satélite, mas antes cruzando informação de forma a mostrar como tudo, no fundo, está ligado a uma história conjunta, com características comuns e seguindo regras que o mundo da física pode explicar. E com o valor extra que s imagens de alta definição podem garantir a este tipo de documentários, a opção pelo Blu Ray em detrimento do DVD sendo aqui escolha mais que justificada.

Wonders Of The Solar System começa por visitar o Sol e a forma como a sua presença e evolução marcam a história do sistema solar. Depois procura mostrar como o comportamento do movimento dos planetas afeta as características das suas paisagens e visita não apenas os anéis de Saturno mas também a sua lua Encelado. Num terceiro episódio Brian Cox sobe, num vôo especial, aos limites da atmosfera para reconhecer quão delicada é esta fina camada que envolve a Terra, caminhando depois numa “visita” a Marte e Titã. O quarto episódio aborda a vitalidade geológica de vários mundos do nosso sistema solar. Parte do Grande Canyon, no Arizona para estabelecer paralelos com o Valles Marineris em Marte. Passa depois pelo Kilauea, no Hawai, para nova comparação marciana, desta vez com o Monte Olimpo. Passa ainda por Io (para contemplar formas de vulcanismo bem distintas) e analisa ainda o efeito que Júpiter tem sobre os asteroides (alguns deles projetados sobre os planetas interiores como meteoritos). O quinto e último episódio procura refletir sobre a possibilidade de água e vida noutros lugares do sistema solar, começando com uma descida a dois quilómetros de profundidade no mar mexicano a bordo do submarino Alvin (para encontrar toda uma fauna bem diferente) e seguindo depois rumo a Marte e a Europa, levantando hipóteses que em breve poderão ter respostas mais concretas.


Vale a pena falar ainda do autor e apresentador da série. Brian Cox é um físico inglês na casa dos 40 anos. Tem um passado pop (foi teclista de duas bandas uma delas, os D:Ream, tendo mesmo somado uma mão cheia de êxitos em inícios dos anos 90) e ensina da Universidade de Manchester. Autor de outras séries (entre as quais a sequela Wonders of The Universe, de 2011), Brian Cox é um claro herdeiro da “escola” David Attenborough, o seu aventureirismo sendo evidente pela forma como não olha a limites para se deixar juntar, com a câmara, ao lugar que conta para a história que interessa mostrar, seja o limite de um penhasco monumental, o bordo de um lago de lava ou uma ilha de gelo em pleno glaciar... O seu entusiasmo ecoa também as memórias do encanto do grande divulgador que foi Carl Sagan. Talvez lhe falte a eloquência literária com que Sagan moldava Cosmos (e toda a sua obra em livro) à expressão de uma personalidade vincada que refletia os dotes de um comunicador invulgar. Mas convenhamos que não se sai nada mal... E tem nesta série uma belíssima equipa que garante aos programas qualidades técnicas na realização, captação e tratamento de imagem que explicam o sucesso que obteve e os prémios que alcançou.