A Quetzal acaba de lançar entre nós uma tradução de Encontro à Beira Rio, romance originalmente publicado em 1967 por Christopher Isherwood.
Data de 1967 e levou Christopher Isherwood a focar as suas atenções em cenário indiano. Residente em Los Angeles há já algum tempo, o escritor inglês não rompe contudo em definitivo as suas ligações mais profundas com a identidade britânica, escolhendo como protagonistas dois ingleses. Dois irmãos. Um está prestes a tomar os votos que o afastarão da vida que até então conhecera para passar a integrar um mosteiro na Índia. O outro, mais velho, de visita para o tentar compreender (quem sabe se procurar demover de tamanha decisão)... É com as águas do rio Ganges a seu lado que a narrativa evolui. Uma história que acompanhamos essencialmente entre as cartas que o irmão mais velho troca com a mulher, a mãe e um homem que entretanto conheceu em Los Angeles (onde prepara a rodagem de um filme) e as notas do diário do mais novo que, com sentido crítico, contrapõe a essas palavras uma outra leitura sobre os mesmos factos. De resto é entre jogos de contradições que Encontro à Beira Rio ganha a sua vitalidade. As cartas que o irmão mais velho envia quer para Inglaterra quer para Los Angeles mostram visões diferentes da mesma realidade, a cada uma a sua escrita aplicando um filtro através do qual expressa não o que pensa, mas o que quer que julguem que vê e sente. Não é difícil sentir qual das visões está mais próxima da verdade, mas da multidão de diferenças que afinal moram no seu discurso mais não passa senão a expressão de um conflito maior que, no fundo, vive internamente.
Depois de Um Homem Singular (que teve recentemente vida no cinema numa soberba adaptação de Tom Ford) e de Adeus a Berlim (o mais célebre romance do autor e ponto de partida para a criação do Cabaret, de Bob Fosse), é interessante esta opção para terceiro volume na edição de uma obra marcante da literatura em língua inglesa do século XX que estava (apesar de pontuais edições no passado) algo arredada dos escaparates nacionais.