domingo, fevereiro 12, 2012
A Criação, segundo Thomas Adès
Um disco (que junta também um DVD) apresenta-nos o excelente In Seven Days, de Thomas Adès, um concerto para piano e imagens que parte de um trabalho conjunto com Tal Rosner. Gravação pela London Sinfonietta, dirigida pelo próprio compositor, com o pianista Nicolas Hodges como solista.
Sete dias. Ou seja, os dias da criação, segundo o Genesis... E é precisamente desse ponto de partida que o compositor britânico Thomas Adès parte para a construção de um concerto para piano, orquestra e imagens que se afirma claramente já não apenas entre os melhores instantes da sua obra mas representa um momento a reter entre a história da música orquestral do século XXI. A obra (recentemente apresentada na Gulbenkian) é, na verdade, um trabalho conjunto entre Adès e Tal Rosner, que criou as imagens segundo um processo de contínuo diálogo com o compositor. In Seven Days é uma obra com perto de meia hora de duração, dividida em sete partes que seguem o dia a dia da “criação”, do caos original à contemplação final, a estruturação de uma ordem e formas definindo primeiro a separação entre a luz e a escuridão, a separação das águas entre o mar e o céu, o aparecimento da terra (e da vegetação), a formação da Lua e das estrelas e depois a chegada das “criaturas” do mar, do céu e da terra...
A música é um poderoso veículo com poder narrativo que, Adès sabe usar sem que tal implique uma ideia de paisagismo descritivo. Revelando uma escrita que sabe atribuir à orquestra um dinamismo que sugere fluxos, movimentos e volumes, a música em In Seven Days sabe partir do que parece o caos original rumo ao estabelecimento de arrumações dos elementos que definem depois a ordem das coisas. O fulgor do trabalho com metais, a fluidez das cordas e a liberdade que depois o piano desenha conhecem nas imagens de Tal Rosner (que partem da manipulação de fotos de pormenores das duas salas onde a obra foi estreada) uma sugestão de fisicalidade que as materializa, sublinhando a noção de construção de algo que evolui à nossa frente em sete ecrãs (seis rectângulos, o sétimo sendo o conjunto dos seis como um todo).
Já houve quem lhe chamasse o sucessor de Fantasia, o clássico filme da Disney de 1940, certamente pelo trabalho de construção de imagens como complemento direto de peças de música orquestral. In Seven Days é um herdeiro dessa visão, sendo que obras não menos importantes (mas sem a presença de uma orquestra) como o foram um Koyaanisqatsi (filme de Godfrey Reggio com música de Philip Glass) ou a mais recente versão em palco do clássico Quadros Numa Exposição, de Mussorgsky (rebatizado como Pictures Reframed), pelo pianista norueguês Leif Ove Andsnes, com imagens criadas por Robin Rhode são momentos a ter também em conta na história da relação da música com imagens.
A completar o alinhamento, o disco inclui ainda as partes 6 e 7 dos Nancarrow Studies. Um DVD extra junta à gravação áudio a obra (música + imagens) total aqui apresentada.
Imagens de um filme promocional que acompanhou a edição deste disco.