Quem seria capaz de contar uma história de raptos e vinganças, numa teia que ultrapassa as "tradicionais" agências secretas, para mais dando o papel central a uma mulher, Gina Carano, uma estrela das... artes marciais made in USA? E ainda: quem saberia cozinhar tudo isso preservando um militante gosto cinéfilo pelas delícias estilísticas da mais clássica "série B"? No actual contexto de Hollywood, a resposta talvez só possa ser uma: Steven Soderbergh. Extra-competição na Berlinale, o novo filme de Soderbergh, Haywire, é uma magnífica peça nostálgica que, contra os meninos irresponsáveis que julgam que fazer cinema é filmar "à telemóvel", revaloriza o espaço, o tempo e a imaculada duração de cada plano. Tudo temperado pelo mais sarcástico feminismo, friamente assumido pela impecável Carano.