Provavelmente, há nesta imagem de Ana Moreira e Carloto Cotta qualquer coisa que nos remete, de imediato, nem que seja no mero plano intuitivo, para África. O filme de Miguel Gomes, Tabu, é sobre isso mesmo. Ou seja: sobre uma espécie de naturalidade das nossas memórias africanas que nos empresta tantas certezas quantas ilusões, no limite transformando-nos em viajantes desamparados da nossa própria aventura colectiva. Apostando em desafiar muitos clichés ligados ao tratamento audiovisual dessa história — sendo a magnífica fotografia a preto e branco, assinada por Rui Poças, a expressão mais paradoxal de tal aposta —, Tabu é um filme também à procura de outros espectadores para contar a mesma história que nos assombra. Ou talvez: procurando sensibilizar os mesmos espectadores de sempre, capazes de se reconhecer, enfim, noutras formas de contar as nossas histórias.