De que falamos quando falamos dos Globos de Ouro? Para muitas descrições (!) jornalísticas (?), apenas da "antecipação" dos Oscars... Obviamente, tais discursos existem num universo de tão cegos automatismos que ignoram até a mera estatística dos premiados ao longo das últimas décadas. Além do mais, estamos perante uma escolha que, melhor ou pior, reflecte um sector específico da imprensa em Hollywood (actualmente, a Associação da Imprensa Estrangeira tem 88 elementos votantes), impossível de comparar, seja no plano estatístico, seja no valor simbólico, com a Academia das Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood (com cerca de 6 mil membros).
Dito isto, vale a pena referir que os Globos (madrugada de domingo para segunda) conseguiram, na pessoa de Ricky Gervais, um misto de elegância e insolência, não necessariamente por esta ordem, que se impôs como eficaz marca mediática. O criador de The Office vai regressar como apresentador e, para já, surge numa delicioso cartaz do evento, sugerindo o teste a que será exposta a sua ousadia discursiva. É uma boa ironia para um evento em que a noção clássica de cinefilia ocupa um lugar cada vez mais discreto.
[agradecemos o mail de Ricardo Oliveira]