sexta-feira, janeiro 13, 2012

Reedições:
The Rolling Stones, Some Girls


The Rolling Stones
"Some Girls"
A&M / Universal
4 / 5

Saber reagir aos sinais dos tempos é ginástica fundamental no assegurar não apenas da longevidade mas também da capacidade de uma banda em se manter vibrante e consequente no panorama musical do presente, evitando assim a sua transformação em peça para o museu das nostalgias e ponto final. Assim aconteceu em 1979 com Number One Song in Heaven para os Sparks, em 1991 com Achtung Baby nos U2 ou em 1993 com Songs of Faith and Devotion dos Depeche Mode. Com os Rolling Stones, mais que na reinvenção operada em 1968 em Sticky Fingers, o processo da tomada de consciência e de assimilação de sinais externos chega precisamente dez anos depois em Some Girls. Viviam-se os dias (na verdade já as consequências) da revolução punk. O establishment rock’n’roll estava a ser questionado e alguns dos heróis de outrora eram vistos como nova burguesia endinheirada. Ícones da rebelião nos sessentas, os Rolling Stones sabiam que o que fora não voltaria a ser. Mas saber escutar e refletir o mundo ao seu redor era desafio não apenas ao seu alcance como tarefa a colocar na sua agenda, evidente que era uma progressiva quebra de entusiasmo na sua música desde os dias de Exile on Main Street (1972). Some Girls emergiu assim como um disco de reação. E sem apagar do mapa a essência da identidade da banda (nem o seu caminho recente), a verdade é que não só escuta os ecos do punk (sobretudo evidentes em When The Whip Comes Down, tema que Jagger interpreta do ponto de vista de um homem gay que se muda de Los Angeles para Nova Iorque) como reflete o clima noturno em plena era de afirmação do disco sound como fenómeno global (em Miss You). Junta ainda uma leitura personalizada de Imagination (originalmente celebrizado pelos Temptations) e em Beast of Burden assinala um dos clássicos maiores da obra do grupo nos anos 70. A capa icónica completa uma visão que lhes valeu a reativação de entusiasmos (na verdade, depois deste álbum só Emotional Rescue, de 1981, reflecte esse mesmo patamar, seguindo-se um tempo desmotivador que só o mais recente A Bigger Bang, de 2005, contrariou). A presente reedição junta um CD com extras (sem interesse maior senão para os admiradores da banda) e um booklet com um texto que ajuda a entender o disco no tempo e espaço em que nasceu.