Sete obras de Carl Orff numa caixa de dez CD. As gravações datam na sua maioria dos anos 50, três delas por Eugen Jochum, o maestro cujas abordagens o compositor alemão dizia serem as de refêrencia para a sua música. Uma caixa para reconhecer que há mais em Carl Orff para lá de Carmina Burana.
A música para teatro representou um dos espaços de maior protagonismo na obra do compositor alemão Carl Orff (1895-1982). Sistematicamente reduzido nos escaparates das lojas discos a uma multidão de gravações de Carmina Burana, cantata cénica estreada em 1937, Carl Orff é nome que na verdade aí não esgota a visão de uma linguagem claramente pessoal e bem demarcada. O vigor do ritmo sustenta a estrutura de muita da sua música, as vozes aceitando essa geometria arrumada, as cores das orquestrações não seguindo os padrões da grande orquestra, escutando preferencialmente metais e percussões... Carmina Burana, verdadeira referência maior da música do século XX – usada desde a publicidade ao cinema, do Saló, ou os 120 Dias de Sodoma de Pasolini ao Excalibur de John Borman - pode representar o paradigma de uma ideia encontrada. Mas partilha necessariamente com Catulli Carmina (1943) e a ópera Der Mond (1939) um trio de referências maiores de uma obra cujos horizontes abrangem ainda uma multidão de peças curtas criadas para programas de ensino musical e (numa primeira etapa da sua carreira) um interesse peculiar pela revisitação de obras de um passado mais remoto (com Monteverdi como importante pólo).
A dieta que caracteriza habitualmente a oferta em loja de gravações de obras de Carl Orff para lá de Carmina Burana faz desta caixa de 10 CD (a preço reduzido) uma verdadeira descoberta. Juntando na sua maioria gravações dos anos 50, revisita-se o tríptico Trionfi – Carmina Burana, Catulli Carmina e Trionfo di Afrodite (1953) – pela Orquestra da Rádio da Baviera, dirigida por Eugen Jochum. As óperas Der Mond e Die Kluge (1943) em registos pela Philharmonia Orchestra, com Wolfgang Sawallisch (Die Kluge contando com Elisabeth Schwartzkopf no elenco). As peças de teatro Antigonae (1949) e Opedipus der Tyran (1959) surgem em leituras, respectivamente, pelo Coro e Orquestra da Rádio da Baviera, com Sawallisch e pelo Coro e Orquestra da Württenberg State Opera, dirigida por Leitner. A fechar a colecção, uma segunda leitura de Carmina Burana gravada na segunda metade dos anos 90 pela Royal Philharmonic Orchestra e pelo maestro Richard Cooke. Todas estas gravações tinham já edição em CD. A caixa limita-se a juntá-las em dez discos. Não junta porém quaisquer informações adicionais nem mesmo um booklet. É pena... O factor “budget” da coisa explica a contenção de despesas. Mas na hora de propor esta verdadeira “antologia selecionada” de obras de Carl Orff a obra do compositor merecia mais.