E estamos quase a fechar as contas ao que aconteceu ao longo de 2011. Hoje escutamos o melhor do ano segundo Flávio Gonçalves, do DN e da revista Première e autor do blogue O Sétimo Continente. Um obrigado ao Flávio pela colaboração.
O ano passado foi prolífico em descobertas e experiências. Sobretudo pessoais, sim, mas também musicais, literárias e cinematográficas.
Na “nossa” literatura realço um nome: Gonçalo M. Tavares (este ano publicou “apenas” Short Movies e Canções Mexicanas, mas começou a ser mais falado pela reedição da epopeia Viagem à Índia e dos vários prémios acumulados, incluindo o Prémio Literário dos Jovens Europeus, para O Senhor Kraus), com quem amadureci e aprendi a ler o mundo de modo diferente. Longe dos romances, destaco o ensaio pertinente, honesto e, a dada altura, comovente A Morte, da investigadora-coordenadora emérita do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa Maria Filomena Mónica, publicado em Junho passado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos.
Na música, os lançamentos que mais me entusiasmaram passaram por James Blake (álbum homónimo, sendo que Lindisfarne, primeira e segunda partes, ficou para mim como a canção do ano – e, já agora, teledisco), Bon Iver (a canção Beth / Rest aproxima-se do estatuto pessoal que atribuo a Lindisfarne), Brian Eno (não há nada em Drums Between The Bells que não valha a pena ouvir), Britney Spears (todo o Femme Fatale, sobretudo a canção I Wanna Go, esteve em repeat todo o ano…), Jamie Woon (um nome esquecido, ou ignorado, nos tops do ano de muitos), Lady Gaga (“compreendi” o álbum Born this Way depois de o ter ouvido pela terceira vez e, tal como com a Britney, também canções como Scheiße, Heavy Metal Lover ou The Edge Of Glory passam pelo repertório musical do duche matinal), Patrick Wolf (pelo álbum Lupercalia) e Panda Bear (ouça-se apenas Benfica ou You Can Count on Me…). Os concertos que mais me marcaram em 2011 foram quatro: James Blake (no Optimus Alive!), Sufjan Stevens (no Coliseu dos Recreios), a San Francisco Symphony Orchestra, dirigida por Thilson Thomas, a interpretar a Sinfonia n.º 2 de Mahler (também no Coliseu dos Recreios) e um Passio de Arvo Pärt por Paul Hillier e outros músicos (no Grande Auditório da Gulbenkian).
O meu top dos filmes do ano obedeceu aos seguintes critérios: longas-metragens, portuguesas ou não, que tenham estreado nas salas de cinema nacionais em 2011, excluindo, por isso, as projecções em festivais de cinema. Assim, gostaria antes de mencionar alguns títulos que, não obedecendo a estas restrições, marcaram o meu ano cinematográfico: o documentário, projectado no doclisboa, De Engel van Doel, de Tom Fassaert, que é um magnífico exercício, formal e “narrativo”, sobre a solidão e o sentimento de pertença, e a extraordinária curta-metragem, exibida no IndieLisboa, Alvorada Vermelha, de João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata, pela sua pulsão ao mesmo tempo implacável e lírica. Dito isto, o top dos filmes do ano:
1. A Árvore da Vida (The Tree of Life), Terrence Malick
2. Mel (Bal), Semih Kaplanoğlu
3. Sangue do meu Sangue, João Canijo
4. Submarino (Submarine), Richard Ayoade
5. As Quatro Voltas (Le Quattro Volte), Michelangelo Frammartino
6. Inquietos (Restless), Gus Van Sant
7. O Atalho (Meek’s Cutoff), Kelly Reichardt
8. O Miúdo da Bicicleta (Le Gamin au Vélo), Jean-Pierre Dardenne & Luc Dardenne
9. Uma Separação (Jodái-e Náder az Simin), Asghar Farhadi
10. Road to Nowhere – Sem Destino (Road to Nowhere), Monte Hellman
Apostas para 2012:
Álbuns de Lana Del Rey (é mesmo caso para lhe dizer: Heaven is a place on Earth with you), Madonna e Lady Gaga; O Cavalo de Turim e a edição dos DVDs do realizador húngaro Béla Tarr; Shame, de Steve McQueen; A Última Vez Que Vi Macau, da dupla João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata; algum filme de Terrence Malick.