As repetidas consagrações de O Artista, de Michel Hazanavicius — a mais recente vem do sindicato dos realizadores americanos, isto é, a Directors Guild of America —, vão por certo gerar a tradicional avalanche de insultos contra aqueles que consideram o filme um divertimento banal, simpático na sua futilidade, retórico no seu kitsch de muitos simulacros. É uma mitologia demasiado forte que quase todos aplicam sem sequer olharem à sua volta: a "crítica" ataca os filmes que têm prémios... Enfim, cada um diverte-se com os equívocos que mais lhe agradam.
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Lembremos, a propósito, que logo em Cannes/2011, foi possível pressentir as perversas potencialidades comerciais do filme, aliás in loco confirmadas pelo facto de O Artista ter sido adquirido pela Weinstein Company, entidade de invulgar talento de marketing.
Ao mesmo tempo, importa recordar que o impacto de O Artista nos EUA é apenas o efeito mais próximo de todo um processo económico e cultural que a França tem sabido desenvolver através de políticas cujas lógicas vêm dos tempos de Jack Lang como ministro da Cultura.
Entretanto, sendo também uma tradição difamar Hollywood e os Oscars, não deixa de ser curioso observar como, em situações deste género, subitamente tudo o que vem da América para consagrar o cinema europeu ganha valor de caução intocável.