James Blake
“Love What Happened Here”
R&S Records
4 / 5
Entre um álbum de estreia que marcou a agenda do som do ano passado e uma mão cheia de singles e EPs, James Blake deve ser dos músicos com mais discos editados (e globalmente comentados) entre 2010 e 2011. Para não quebrar o ritmo, lançou o EP Enough Thunder no Outono, aí focando uma lógica de continuidade face ao que nos mostrara no álbum, concedendo ao piano uma voz ainda mais presente em alguns instantes. Em Dezembro chamava-nos contudo a atenção para algo completamente diferente, num EP que, lançado pela R&S Records, reencontrava o contacto com os ritmos e os métodos da dança que recordamos, por exemplo, do belíssimo CMYK (de 2010). Será Love What Happened Here um compasso de espera, com jeito de coisa de descompressão, antes de um segundo álbum, ou o retomar de um caminho que venha a caracterizar a criação do sucessor de James Blake. Acreditando mais na hipótese um que na dois (afinal a edição surge no quadro de um percurso em paralelo numa outra editora), o certo é que o EP mostra que o músico não só não está fechado no mundo minimalista e frágil que explorou no álbum, como mantém o interesse pelas suas raízes R&B e dubstep, assim como um gosto pela exploração e aventura. O tema que dá título ao EP é um herdeiro natural de CMYK, segue caminhos semelhantes e, na verdade, é canção com perto de um ano de vida, tendo merecido exposição na rádio ainda antes do lançamento do álbum, embora acabasse arrumada (para descansar) numa gaveta durante alguns meses. At Birth, na outra face, é ainda mais intenso mergulho na exploração do ritmo, atento contudo a uma vontade em sugerir uma cenografia e um espaço ao seu redor. Curbside, mais próximo de genéticas do hip hop e de uma certa liberdade jazzística, representa a revelação de um novo espaço a explorar, todavia para já mais interessante na vontade de o fazer que na forma como o concretiza. Contra a solidez formal que sustentava o alinhamento do álbum ou de EPs como Klavierwerke ou Enough Thunder, este novo disco talvez seja o menos focado dos títulos mais recentes na obra de James Blake. Mas mostra como o músico não baixou os braços e continua firme na sua vontade em viver a música como uma aventura feita de diálogos entre heranças e descobertas.