quarta-feira, janeiro 11, 2012

Novas edições:
The Gift, Primavera


The Gift 
“Primavera” 
La Folie 
4 / 5

O ritmo a que hoje se editam discos reflete um tempo de ciclos mais longos para os álbuns, à estrada sendo concedida uma cada vez mais extensa fatia do todo. E não é difícil pensar o porquê (que da venda de música gravada não se vive como noutros tempos). Daí que o surgimento de um novo álbum de originais para os The Gift, no ano que se segue a Explode, tenha sido para todos (até mesmo internamente) uma surpresa. Havia um tempo de estúdio marcado no CCB, algumas gravações em agenda, talvez um EP em mira... Mas entre ideias que já circulavam e outras que surgiram, um álbum inteiro ganhou forma. E, mesmo tomando por título Primavera (tema do alinhamento do disco de 2011 mas em novo arranjo), o que ali nasceu é um disco de Inverno. O piano assume um protagonismo maior, não apenas na composição como nos próprios diálogos com a voz. Em seu redor evoluem depois ideias de cenografia, que ora contam com ajuda de ferramentas electrónicas ou com a banda com a qual hoje se apresentam em palco. Mais que em Explode, onde o grupo procurou seguir outras soluções com as guitarras e eletricidade mais evidentes, é em Primavera que encontram um caminho novo. Com afinidades com marcas de identidade que lhes são características (a composição de Nuno Gonçalves e a voz de Sónia Tavares asseguram sem esforço essas ligações) o que escutamos em Primavera representa contudo a mais bem sucedida abertura de horizontes na música do grupo desde que, entre Vinyl (1998) e Film (2001) definiram um paradigma que lhes permitiu afirmar um espaço próprio no panorama pop local. Apesar das várias presenças instrumentais os arranjos abrem uma nova noção de espaço. A placidez que domina as composições define um clima, que tanto as canções como os vários instantes instrumentais aceitam como o seu universo. Neste que é o melhor disco do grupo desde Film, talvez não haja um “single” daqueles que a rádio escolhe para repetir vezes sem conta (o tema-título será a escolha mais evidente, mas não a melhor canção do disco). Mas é do todo que vive a alma de um disco que acaba por sugerir uma continuidade quase narrativa entre os temas que se sucedem, mais parecendo até eventual banda sonora para um filme que não existe. De resto, se há confirmação maior nas entrelinhas desta Primavera é a de que está aqui uma equipa à espera que o cinema os desafie. Resta saber quando. E quem...