terça-feira, janeiro 31, 2012

Novas edições:
2 Bears, Be Strong


2 Bears
"Be Strong"
Southern Field
3 / 5

São dois ursos, mas podiam ter sido três. Por ocasião de festas com o Greco Roman Soundsystem, um amigo sugeriu que o produtor Raf Rundell, Jo Goddard (dos Hot Chip) e Joe Mount (dos Metronomy) criassem um projeto ao qual poderiam chamar Three Bears (ou seja, os três ursos). A ideia avançou, mas sem Joe a bordo e o nome acabou reduzido para 2 Bears, desde 2009 o par tendo assinado várias atuações como DJs e remisturas, começando inclusivamente a editar música de sua autoria numa sucessão de singles e EPs que, na verdade, não chegaram para além da atenção de alguns. Já este ano Work, um novo single, deu-lhes outra visibilidade e agora a chegada do álbum coloca-os definitivamente sob os focos dos que gostam de seguir os caminhos cruzados da música de dança com os terrenos da canção. Sem a “obrigação” de corresponder a um qualquer plano de espectativas (que foi certamente elemento em conta para os Hot Chip entre Made In The Dark e One Life Stand), os 2 Bears apresentam em Be Strong um discreto manifesto de luminosidade em tempo de sombras. Assim acontece, revelando o alinhamento do álbum uma viagem, não necessariamente arrumada ou sistematizada, por referências que fazem parte das vivências da música de dança dos últimos vinte e poucos anos, de assimilações da cultura house (a linha de piano com sabor italo house em Work é irresistível, as heranças deep house em Bear Hug convivem com saboroso refrão pop) e ecos de modelos de produção de outros tempos (Ghosts & Zombies lembra a sofisticação polida da pop dançável de finais dos oitentas) às evoluções mais recentes das genéticas two step e periferias, não faltando elementos R&B e outros temperos que sugerem mesmo assim uma certa ordem de unidade entre a diversidade. No fundo, até o aparente ovni (muito ao estilo Blancmange) de Time in Mind tem razão de ser entre esta coleção acontecimentos que são como bálsamo pela alma de um tempo algo magoado no mundo real. Não há aqui um One Life Stand, muito menos um I Feel Better... Mas a coerência do alinhamento garante a Be Strong a noção de rumo que faltava ao mais recente álbum dos Hot Chip. Que daqui sigam boas sugestões na hora de arrumar as ideias para o seu sucessor, que está prometido para este ano.