Heaven 17
"Play To Win - The Very Best of Heaven 17"
Music Club Deluxe
3 / 5
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Tudo começou em Sheffield, em finais dos anos 70. E quando Glenn Gregory se mostrou indisponível para formar uma banda, os outros dois músicos – Ian Craig Marsh e Martyn Ware – chamaram Phil Oakey... e nasciam os Human League. As visões não eram unânimes entre si e quando a rutura chegou Oakey ficou com o nome (e a banda) e Marsh e Ware formaram, agora com Gregory, um trio para o qual chamaram o nome de uma banda ficcional referida nas páginas de A Laranja Mecânica de Anthony Burgess, ao mesmo tempo formando a companhia de produção British Electric Foundation (B.E.F. nas iniciais que fariam história em vários discos. Juntando as ferramentas electrónicas (a base da sua dieta de trabalho) a uma ideia de canção pop interessada em captar também heranças dos universos da soul e funk, os Heaven 17 apresentaram em inícios dos anos 80 dois álbuns que contribuíram com algumas das grandes canções para a afirmação de uma nova geração de criadores pop, afirmando-se também como uma voz com consciência política claramente afastada do rumo mais conservador que o Reino Unido então tomava. Penthouse and Pavement (1981), dividido entre uma face ritmicamente insistente e uma outra, mais interessada em explorar ambientes e cenografias, é inclusivamente um dos álbuns de referência do seu tempo, tendo dado a conhecer canções como Geisha Boys and Temple Girls, At The Height of The Fighting ou Play To Win. The Luxury Gap (1983) mantém caminhos semelhantes, de linas talvez menos angulosas, incluindo canções como Temptation, We Live So Fast ou Come Live With Me. Porém, e como aconteceu a tantos nomes da sua geração, a vontade em caminhar para lá do sentido de contenção que caracterizara os seus primeiros registos, resultou numa vontade em alargar horizontes, os discos seguintes mostrando passos maiores que a perna e, consequentemente, uma descaracterização do som e progressiva diluição de rumos. Se How Men Are, em 1984, já não sabe bem para onde ir, daí em diante a coisa ainda perde mais sentido e acaba inconsequente. Entram em pausa em finais dos oitentas, regressam a meio dos noventas, afastam-se outra vez e reentram em cena a meio da década dos zeros. Apesar de terem editado álbuns de originais em 1996 e 2005 a sua música passa a viver do apetite de nostalgia dos que recordam, sobretudo, os singles de 1981 a 83... Esta nova antologia recorda a história de fio a pavio (ignorando contudo a etapa Bigger Than America, em meados dos noventas). Na verdade a evocação mostra grandes canções na primeira metade do alinhamento (de 33 temas). Mas a segunda serve apenas a ilustração de um percurso sem Norte, apenas para consumo dos admiradores mais dedicados. Boa capa, de facto. Mas em 2012, e querendo ajudar a contar a história da pop electrónica dos oitentas, fazia mais falta um tratamento com extras e som restaurado (como se fez já para Penthouse and Pavement) para o álbum de 1983 que uma tão extensa antologia (sendo que best ofs é coisa que não falta na discografia dos Heaven 17).