quinta-feira, janeiro 05, 2012

Música ao serviço das imagens

Discografia Philip Glass 
'Koyaanisqatsi - Original Soundtrack' (1982) 
Antilles Records 



No principio era o filme. E o projeto começou ainda em inícios dos anos 70, quando Godfrey Reggio trabalhava no Institute for Regional Education e realizou uma série de campanhas para transmissão em televisão. É por essa altura que, com a ajuda do director de fotografia Ron Fricke (que mais tarde realizaria o filme Baraka), começa a recolher imagens para um filme sem argumento. Escolhem o que lhe pareça que possa gerar boas imagens, e filmam sem rumo definido. Com o passar dos anos e o acumular das imagens a improvisação cede espaço a uma ideia que ganha forma, o filme começando a desenhar um retrato da vida humana sobre a terra, os sinais de desequilíbrio gerados e o confronto entre o espaço e o tempo das paisagens desabitadas com o ritmo da vida urbana. Francis Ford Coppola vê, numa sessão privada, o filme ainda em 1981 e decide apoiar a sua produção. O seu nome será assim uma peça central para a sua visibilidade. Mas um outro, que entrara em cena um pouco antes, acabará por ser o mais central dos rostos responsáveis pela sua transformação numa peça de culto: Philip Glass.

Numa etapa em que o Philip Glass Ensemble era ainda o destinatário central da escrita do compositor, a música que cria e grava para Koyaanisqatsi (palavra dos índios hopi que traduz uma noção de vida em desequilíbrio) assenta essencialmente nas electrónicas, juntando sopros e vozes. De certa forma o que encontramos nesta música pode ser entendido como uma derivação direta das ideias exploradas em Einstein On The Beach mas, e sem perder as características de formas ainda próximas do minimalismo, ensaiando demandas mais adiante procurando, sobretudo, a exploração de uma lógica melodista mais visível. Mantendo firme uma estrutura assente numa arquitetura ritmicamente demarcada. A música serve o filme em perfeito sincronismo e garante às imagens a voz que a ausência de falas poderia fazer sentir ao espectador. A precisão geométrica na relação entre imagens e música serviu de base à apresentação do filme em espetáculos ao vivo, a projeção surgindo sobre um palco, os músicos interpretando a música em sincronia.

A capa que abre o post corresponde à primeira das versões disponíveis em disco. Lançada pela Antilles (etiqueta da Island Records) em 1982, a banda sonora incluía apenas 46 minutos de música gravada (o tempo que a duração do LP permitia). Com o advento do CD Philip Glass regravou a música de Koyaanisqatsi, para a Nonesuch. Mais recente é uma outra gravação, de vistas ainda mais largas, pela Orange Mountain Music.