Das mais diversas origens, de Portugal aos EUA, chegam notícias de uma baixa da frequência nas salas de cinema, em 2011 (com excepções significativas: por exemplo, a França). Vale a pena, por isso, ler o artigo de Roger Ebert [foto] com um título de sugestiva ironia: "Eu explico-vos porque é que a receita do cinema está a cair...". Entre os factores enumerados pelo crítico americano encontram-se o preço dos bilhetes, a degradação dos comportamentos nas salas escuras (incluindo a praga dos telemóveis...) e a concorrência de outras formas de consumo (incluindo o cada vez mais importante aluguer directo, "VOD"). Mas há um factor que, mais do que nunca, importa sublinhar, até porque está longe de ser especificamente americano. Ou seja: a falta de alternativas.
É um factor tanto mais importante quanto surge frequentemente mascarado por um jornalismo (de todos os quadrantes) que confunde a vida económica do cinema com os milhões dos blockbusters. Não poucas vezes, esse jornalismo rejubila com os 100 milhões feito por um filme, "esquecendo-se" de referir que custou, por exemplo, 200 e que, para mais, como é normal na grande indústria, se gastou pelo menos outro tanto na campanha de lançamento (isto para já não falar da percentagem que fica para o exibidor).
Escusado será dizer que um filme não é "bom" nem "mau" por ter custado um milhão ou um tostão. Mas é um facto que essa visão maniqueísta do mercado tende a escamotear a boa performance por vezes conseguidas por filmes "difíceis" ou "atípicos". Como refere Ebert, em 2011, no mercado americano as melhores receitas por ecrã (valor relativo, fundamental para avaliar o grau de aceitação de um filme) pertenceram a títulos independentes, estrangeiros ou de carácter documental.