sexta-feira, janeiro 06, 2012

Em conversa: Os Capitães da Areia (3)

Lançaram o seu álbum de estreia na reta final de 2011, revelando uma ideia pop luminosa e com sabor a Verão. Esta é a terceira parte de uma entrevista aos Capitães da Areia que serviu de base ao artigo 'Música pop para contagiar o lado luminoso da vida' publicada na edição de 28 de dezembro do DN. 

Porque surgiram nas primeiras fotos apenas da cintura para baixo (estratégia que repetiram no teaser da canção de Natal)?
Em primeiro há que salientar que temos um gosto muito particular por criar expectativa nas pessoas que nos começam a seguir. É uma mania, uma doença nossa. Há quem trabalhe a expressividade do olhar, por nós ficávamos sempre a trabalhar expressividade de pernas. Em segundo e não menos importante, as cores primárias são a imagem fidedigna dos Capitães da Areia. Contudo, se metade de Capitães dá para transmitir com eficácia parte dos nossos valores, com os Capitães da cabeça aos pés, ao vivo, é animalesco.

Pensar um som implica pensar uma imagem?
Sim, sem dúvida que implica. Muitas vezes essa imagem não é exposta, reside apenas na imaginação do compositor, mas no nosso caso fazemos questão de a partilhar. Parece que se assim não fosse, ficaria incompleto. Nessa medida os telediscos são a melhor maneira de demonstrar como as imagens podem (e devem) ser pensadas quando escutamos uma canção. As nossas canções entram em perfeita comunhão com a nossa imagem. Estamos muito felizes.

Nos oitentas havia o Clube Naval. Os Delfins surgiram com look com sabor a praia... Agora há Verão Azul e Capitães da Areia. A nossa pop reencontrou o Verão?
O que hoje parece “óbvio” não o foi durante tantos anos como? Ou porquê? A resposta é uma: o Verão foi passar férias fora. E porque há dias de sorte, parece que o reencontrámos, conversámos um bom bocado e implantámos. Agora somos nós quem vai andar com o Verão na mala. Ainda assim fica-nos bem referir que a nossa pop tanto é doce de fazer corar, como salgada em homenagem ao património (com “P” maiúsculo), ao nosso Património. E estamos a instalar-nos porque o Verão Eterno d’Os Capitães da Areia nasceu e vai ser exclamado pelos palcos nacionais.

Quais são as vossas canções preferidas de Verão? E os vossos telediscos preferidos de Verão?
As canções de Verão das quais mais gostamos são muitas, mas em sumário vão desde o Salva-Vidas do Clube Naval à Here Comes The Sun dos Beatles, To The Grain dos Junip, Surprise Hotel dos Fool’s Gold. Quanto a telediscos a preferência recai sobre Weekend dos Sea and Cake, Hungry Like  the Wolf dos Duran Duran ou Oliver’s Army do Elvis Costello.

Num barco não há só capitães... Como resolvem internamente os problemas que uma hierarquia regularmente trata com ordem de quem manda? 
Num barco não há só Capitães. É verdade. Mas cada um de nós tinha um barco. Eram umas caravelas pequenas, de casca de noz, mas muito confortáveis e que nos permitiam viajar sobretudo em lagoas. Não havia condições para passar a rebentação das ondas no mar. Mas a teimosia não tem limites e o dia chegou. Avançámos, ficámos com as caravelas de meia noz desfeitas e estatelados na praia onde cocos dançavam e abacaxis eram maestros de orquestras vivas de frutos tropicais. De noite, a Lua reflectia o Sol e passámos de quatro rapazes a quatro Capitães da Areia. Quando a patente impede hierarquias, haja alegria como palavra de ordem.