quinta-feira, janeiro 26, 2012

Do cinema para a ópera

Mês Philip Glass - 26


O cinema encontrou muito cedo um espaço relevante na obra de Philip Glass. Em Paris, em meados dos anos 60, foi ao trabalhar na banda sonora de Chappaqua que conheceu Ravi Shankar e, desse encontro, emergiu a visão que moldaria a geração da sua própria música. Trabalhou depois regularmente em música para cinema a partir de finais dos anos 70, com exemplos notáveis em bandas sonoras como as de Koyaanisqaatsi (1983, de Godfrey Reggio), Mishima (Paul Schrader, 1985) ou The Thn Blue Line (Erroll Morris, 1988). Nos anos 90 teve, contudo, uma ideia diferente. E que tal encarar o cinema como ponto de partida para a criação de uma obra? Ou seja, em vez de se limitar a juntar algo a uma peça que conta com a sua música como parte do seu corpo, que tal de um filme partir antes para a criação de uma obra musical que não o serve, antes tem valor independente por si mesma?

Foi assim que entendeu uma trilogia de óperas que criou tendo por base três filmes do realizador, pintor e escritor francês Jean Cocteau. Foram elas Orphée, La Belle et La Bête e Les Enfants Terribles, em cada uma encontrando uma forma muito particular de abordar os filmes como ponto de partida para ideias e concretizações sempre diferentes. Em Orphée usou a história. Em Les Enfants Terribles recuou ao livro que esteve na base do filme. E em La Belle et la Bête foi mais longe, criando uma ópera que se ajustava à projeção síncrona do filme, as próprias vozes dos cantores ajustando-se aos movimentos dos lábios dos cantores.

La Belle et La Bête, além deste esforço de rigor na gestão do tempo e do espaço musical, é também um reflexo da busca de uma dimensão mais lírica na sua linguagem e, portanto, um marco importante na sua obra. A ópera teve edição em disco pela Nonesuch em 1995. Mais tarde foi lançada uma versão do filme de Cocteau em DVD com a ópera como canal áudio extra.