quarta-feira, janeiro 04, 2012

De Bowie e Eno para uma sinfonia

Discografia Philip Glass 
'Low Symphony' 
Point Music, 1993



Com o trabalho em Satyagraha (a segunda das suas óperas-retrato) Philip Glass retoma uma relação com a orquestra que havia abandonado desde o final da sua formção. Ao longo dos anos 80 aprofundou essa demanda, mas só chegado aos noventas se desafiou a ensaiar uma desafio maior que, desde Shostakovich, raras vezes fora visitado por compositores seus contemporâneos: a sinfonia.

A sua primeira experiência sinfónica resulta de um trabalho nada canónico de busca de referências nos espaços da música pop. Em concreto, os três andamentos da Sinfonia Nº 1 – na verdade habitualmente conhecida como Low Symphony – não são mais senão desenvolvimentos e procuras pessoais tendo como ponto de partida três instrumentais do histórico álbum Low, que David Bowie lançou em 1977 e no qual contou então com importante colaboração de Brian Eno. Na verdade o trabalho encontra na base dois temas do álbum original – Subterraneans e Warszawa e junta um terceiro, Some Are, gravado nas sessões de Low mas apenas lançado mais tarde numa reedição com temas-extra, já em 1991.

A Low Symphony é um momento de revelação e experiências. De procura de ideias pessoais tendo como ponto de partida elementos musicais bem específicos de Bowie e Eno. Contudo, e como o próprio Philip Glass explica no booklet da primeira gravação da Low Symphony (com a Brooklyn Philharmonic Orchestra, dirigida por Dennis Russel Davies), a sua abordagem à matéria prima que teve como inspiração seguiu no sentido de a encarar como se fosse música sua, transformando os temas segundo a sua visão como compositor sempre que possível. O resultado é um invulgar encontro de três vozes num espaço comum onde, mesmo coexistindo, a personalidade de Glass se afirma claramente protagonista.