terça-feira, dezembro 06, 2011

'Winnie The Pooh' (2011)
por Francisco Valente

Mês Clássicos Disney - 6



Este mês pedimos a uma série de amigos que nos falassem do “seu” filme da Disney. Hoje recordamos Winnie The Pooh, longa-metragem de 2011 que aqui é evocada por Francisco Valente, jornalista e critico do jornal Público e autor do blogue Da Casa Amarela. Um muito obrigado ao Francisco pela colaboração.

Escrever sobre o Winnie the Pooh é quase como escrever sobre um amigo de longa data. Existiam os filmes de grande fantasia e cenários para os ingénuos e puros olhos da infância, mas já numa tenra idade lançava-me em fortes ligações com outros filmes - aqueles que reconheciam, nos primeiríssimos anos de vida, a solidão que uma criança pode ter ao viver no seu mundo, fugindo timidamente de adultos que eram monstros à escala do meu olhar e de mundos desconhecidos dos quais não saberia por onde fugir. Com o medo de me perder no escuro e na timidez desse olhar aberto - ou de olhos grandes - deixava entrar, aos poucos, alguns amigos que deixava “falar” comigo. Influenciado, também, pela escola britânica onde cresci até à pré-adolescência, esses amigos expressavam-se em inglês: primeiro, Peter Rabbit e a sua postura discreta, depois, Winnie the Pooh e a sua amizade. Pooh era um pouco diferente, pois vivia através do seu amigo Christopher, um jovem rapaz para quem Pooh transmitia, mesmo que desajeitadamente, todo o seu carinho. Mas a improvável amizade entre um rapaz e um pequeno urso fez-me sentir, apesar desse mundo irreal onde cada um se contenta em ajudar uns aos outros na busca dos seus pequenos prazeres (seja comer mel ou dormir uma sesta), que um amor irreal poderia, de facto, existir, pois dependeria apenas da fé que depositássemos nos nossos sentimentos. E aquilo que os adultos vêem mais tarde como a fantasia infantil não é mais que a mais pura das verdades: a confiança cega na força dos sentimentos, vivendo por eles e para eles na nossa visão do mundo. À descontracção de Pooh, sobressaía também a tristeza de Eeyore, em quem caía o peso do mundo e calculava que, se existisse algum infortúnio no mundo, acabaria também por passar pelos seus tristes olhos. Eeyore carregava essa melancolia consigo nos seus olhos e era animado pelos seus outros amigos animais. Um pouco como uma jovem criança que só existe, na sua vida, na alegria da partilha de um recreio que afasta a momentânea solidão de viver só no seu próprio mundo. Sermos adultos significa também saber viver e aprender com aquilo que carregamos, e se se perde a inocência de vivermos apenas pela nossa imaginação, não morreremos satisfeitos enquanto não soubermos senti-la um pouco, de novo, em cada acto nosso de criação. Nem que seja sentir o vislumbre do etéreo sabor de um pote de mel e saboreá-lo como quem percorre, em pequenos passos, a floresta onde reencontramos em cada canto um amigo para quem contar a nossa história.