A ascensão de Nicolas Winding Refn a padrão de uma certa marca moderna de "autoria" é um fenómeno inevitavelmente revelador (foi mesmo distinguido como melhor realizador em Cannes/2011, num festival onde estiveram, entre outros, Terrence Malick, Alain Cavalier e Nanni Moretti). Há nele uma exploração sistemática da redundância formal e da ostentação técnica, já sensível no épico (?) Valhalla Rising (2009), que o coloca numa área bem definida: a de uma exaltação tecnicista em tudo e por tudo devedora dos clichés de muitas narrativas publicitárias.
Por alguma razão, o trailer do seu filme mais recente, Drive [video em baixo] é incomparavelmente mais interessante e, sobretudo, mais consistente que o próprio filme. Na verdade, a história do condutor (Ryan Gosling) que aceita encomendas para participar em diversos golpes resume-se a uma penosa colecção de lugares-comuns, remotamente inspirados no mais banal digest do universo de Quentin Tarantino. Tudo celebrado numa estética que confunde a pose com a mise en scène, e a mise en scène com a suspensão do drama.
Refn representa, enfim, o emblema de uma atitude formalista que tem vindo a ocupar muitas áreas da comunicação audiovisual contemporânea. Não tem, por isso, nada de casual que, desde a imprensa "especializada" até às televisões, deparemos com muitos discursos empenhados em confundir a mera ostentação visual com o génio narrativo... Importa limpar o olhar e rever, por exemplo, Orson Welles.