A história das imagens está recheada de atribulações mais ou menos subtis, da pura tragédia à banal caricatura. Este exemplo está mais do lado do (involuntário) humor e merece ser registado.
Tem a ver com o novo filme de Madonna, W.E., sobre Eduardo VIII, o monarca britânico que abdicou para poder viver com a americana Wallis Simpson.
Depois de um primeiro cartaz, surgiu agora o segundo. Ou melhor, duas variações sobre um mesmo conceito: a versão de cima, para o mercado britânico, opta pela criação de uma zona de fundo negro para inserir as informações escritas, enquanto a de baixo, destinada aos EUA, conserva a totalidade da imagem dos protagonistas. A totalidade? Quase... De facto o Rei que renunciou ao trono do seu país, vê-se forçado a renunciar também ao cigarro [ver pormenores], porventura para garantir um valor inerente ao marketing made in USA: a realeza deve manter uma imagem clean.
Que está em jogo, então? A verdade material da imagem, sem dúvida. Mas mais do que isso: essa emoção imaterial que nos faz fixar um ponto, nele celebrando a irredutibilidade do objecto, do momento, do corpo. Ou seja: aquilo a que, no seu livro A Câmara Clara, Roland Barthes chamava o punctum da imagem, algo que "atinge o leitor e lhe mobiliza involuntariamente o afecto".
Na sua naturalidade agreste, o cigarro é o punctum desta imagem. O seu apagamento (irónica palavra...) confere à nova imagem uma castidade que, conhecendo o original, soa duplamente falsa: pela falta que denuncia, pelo gesto que mascara — no filme, não tenhamos dúvidas, o Rei de Madonna vai mesmo fumar.
Na sua naturalidade agreste, o cigarro é o punctum desta imagem. O seu apagamento (irónica palavra...) confere à nova imagem uma castidade que, conhecendo o original, soa duplamente falsa: pela falta que denuncia, pelo gesto que mascara — no filme, não tenhamos dúvidas, o Rei de Madonna vai mesmo fumar.