Mês Clássicos Disney - 1
Em contagem decrescente para o regresso às salas do clássico O Rei Leão (chega dia 22 deste mês), o Sound + Vision dedica o destaque de Dezembro aos clássicos de animação da Disney. Além de alguns olhares de pormenor sobre imagens, músicas e aspectos técnicos, o foco central dos destaques deste mês passam por histórias contadas na primeira pessoa. Pedimos a uma série de amigos que nos falassem do “seu” filme da Disney. E começamos recordando Dumbo, longa-metragem de 1941 que aqui é evocada por Maria João Caetano, jornalista do DN. Um muito obrigado à Maria João pela colaboração.
Uma das coisas más de ter crescido numa terra onde não havia cinema e num tempo onde não havia cassetes de vídeo, muito menos DVD ou YouTube, é que, em criança, não tive oportunidade de ver nenhum dos filmes da Disney. Para mim, Cinderela e Branca de Neve eram apenas personagens de livros coloridos. Mas isto também pode ter sido uma coisa boa. Acabei por ver alguns desses filmes muito mais tarde e de uma forma completamente diferente. Ver A Bela e o Monstro quando se está na faculdade e com uma crise amorosa é outra coisa. Ver Bambi quando se tem um filho no colo é uma dor inexplicável. E ver Dumbo, de 1941, com cenários a aguarelas e desenhos tão simples, quando já se assistiu a filmes em 3D, tem qualquer coisa de regresso à infância (mesmo que essa infância não tenho sido povoada por filmes da Disney).
Precisamente, a primeira coisa que me agrada em Dumbo é essa simplicidade e essa ingenuidade, nos desenhos e na história (são apenas 64 minutos), que entretanto se perdeu nas grandes produções de animação de hoje. Aqui não subtextos complicados nem piadas que só os adultos entendem. Este é um filme para os mais pequenos. E para que isso fique bem claro tudo começa com uma cegonha a trazer o pequeno Dumbo à sua mãe. A partir daqui conta-se a história do maravilhoso elefante bebé de orelhas gigantes, ostracizado pelos da sua própria espécie e gozado por toda a gente que, com a ajuda do amigo rato, descobre que consegue voar e que, portanto, tal como o patinho feio, aquele seu “defeito” é afinal uma enorme vantagem. Uma história cheia de mil lições que as aparências não importam, que ser diferente não é mau, que não se deve gozar com os mais fracos, que podemos encontrar a amizade nos sítios mais improváveis, até mesmo num pequeno rato que, reza a tradição, não se costuma dar com os elefantes. Que temos que acreditar nas nossas potencialidades (e quem já viu um elefante a voar não se surpreende com mais nada, como diz a música). Que uma mãe defende o seu filho contra tudo e contra todos. Venham de lá essas lágrimas, que também é por isso que gostamos dos filmes da Disney, seja qual for a nossa idade.