domingo, dezembro 11, 2011

Violino, violoncelo, piano e orquestra



Dois concertos de Philip Glass num mesmo disco. De 2010, o Double Concerto for Violin, Cello and Orchestra surge interpretado pela Residentie Orkest/The Hague Philharmonic, dirigida por Jurjen Hempel, com os solistas Tim Fain e Wendy Sutter. O Tirol Concerto é, por sua vez, apresentado pela Orquestra de Câmara de Estugarda, dirigida por Dennis Russel Davies, um dos mais regulares colaboradores do compositor norte-americano.

A música de Philip Glass conheceu cedo uma capacidade em compreender um relacionamento com diversos destinos. Do palco de concertos ao grande ecrã, dos espaços da dança à criação de peças para discos, a música do compositor norte-americano expressa assim uma versatilidade que confirma como um homem do seu tempo, aberto a desafios avessos ao levantar de barreiras tanto na expressão das diversas genéticas musicais que aborda como nos meios (e formatos) a que o seu trabalho se destina. A dança foi já por diversas vezes um pólo criativo importante para a sua obra (e basta lembrar uma obra maior como In The Upper Room, para Twyla Tharp ou a sua Heroes Symphony para lembrar dois daqueles casos com história). Apesar de apresentado na forma de um concerto, o seu Double Concerto For Violin, Cello and Orchestra nasceu de uma ideia de palco, com a dança por motivo. Composto na Primavera de 2010, teve estreia em finais de Abril em Haia (Holanda). Fora-lhe pedida, na origem, uma nova obra orquestral, mas ao pensar nas “vozes” do violino e do violoncelo como fontes de possíveis analogias com os dançarinos em palco, juntando a este facto uma vontade em trabalhar uma peça para esses mesmos dois instrumentos, consultou os coreógrafos e pôs mãos à obra. O bailado teve vida em palco em várias representações, contando com a presença dos solistas – o violinista Tim Fain e a violoncelista Wendy Sutter - que agora escutamos nesta gravação lançada como quarto volume da série Concerto Project. O concerto apresenta três andamentos, separados por pequenos diálogos (duetos) entre os instrumentos solistas, a melancolia quase solitária que cruza estes momentos contrastando com a dimensão efusiva dos episódios em que a orquestra se lhes junta. Sem fugas face a uma linguagem orquestral que Glass tem trabalhado nos últimos anos, o concerto revela todavia a mestria com que evolui o diálogo entre os dois solistas no espaço de uma escrita para cordas que há muito o compositor afinou no quadro da sua linguagem.

Diferente nas formas e na matéria prima da qual emerge a música, o Tirol Concerto é uma obra para piano e orquestra que encontra em registos da tradição folk tirolesa os seus focos de inspiração. Estreada em 2000 por Dennis Russel Davies, o concerto é uma obra luminosa para piano e orquestra que nasceu de uma encomenda de um gabinete de turismo austríaco. Da mesma forma que o concerto para violino e violoncelo traduz a relação profunda de Glass com a escrita para cordas, também este Tirol Concerto reflecte a personalidade da sua obra para piano, o segundo andamento sendo um claro exemplo de como das peças para solista nasce uma identidade que aqui encontra tranquilamente o espaço de uma orquestra.