Mês Clássicos Disney - 2
Este mês pedimos a uma série de amigos que nos falassem do “seu” filme da Disney. Hoje recordamos 101 Dálmatas, longa-metragem de 1961 que aqui é evocada por Isilda Sanches, da Rádio Oxigénio. Um muito obrigado à Isilda pela colaboração.
Ter seis ou sete anos e ver um filme cheio de cãezinhos fofinhos ameaçados por um esqueleto fumegante em casaco de peles foi algo que me marcou profundamente. Sorri e sofri muito com os 101 Dálmatas. Devo tê-lo visto numa qualquer tarde de domingo na televisão, a preto e branco, e tropecei nele algumas vezes ao longo dos anos mas só agora, por causa deste artigo, voltei a vê-lo na íntegra e com entrega.
É um dos filmes mais encantadores de Walt Disney e um verdadeiro tratado de união e companheirismo entre as espécies. Talvez tenha sido isso, mais até do que os irresistíveis cachorrinhos e todos os aspectos plásticos e técnicos do filme (quem se atreve a imaginar fazer a animação de 101 cachorros com pintas?) que me reconquistou agora. Os dálmatas sobrevivem à perseguição da maléfica Cruella porque todos os cães de Londres se unem para passar a mensagem através do twilight bark e assim mobilizam as espécies para encontrar as crias roubadas ao casal Pongo e Perdita. É bonito ver o entusiasmo do pato ao saber que os animais raptados foram encontrados, tocante a generosidade das vacas que oferecem o seu leite ao grupo faminto e em fuga, e inspiradora a aliança do gato com o cão e o cavalo para combater as ameaças dos raptores. Dá vontade que os humanos também sejam assim na vida real. Os 101 Dálmatas é um filme magnífico de intenções simples: reforçar a ideia de amor e protecção familiar.
É verdade que Cruella de Vil é o melhor vilão de sempre de Walt Disney (um dos maiores da história do cinema, já agora) e que o seu ar chupado e macilento me fez desconfiar para sempre de mulheres com casacos de pele, cigarros com boquilha e voz de bagaço, mas os pequenos cachorros, fofinhos e brincalhões, conquistaram o meu coração. Em pequena tive um cachorro que lembrava os dálmatas. Não tinha pedigree, era um rafeiro patusco, fiel e muito amoroso. Morreu atropelado por uma mota quando atravessava a estrada, seguindo-me aos pinotes. Quando vi os 101 Dálmatas pela primeira vez essa tragédia traumática já tinha acontecido mas não há muito tempo. O filme permitiu-me de algum modo recuperar a memória desse cão com pintas que pulava e arfava de forma carinhosamente pateta cada vez que me via. Para mim é como se ele fosse um daqueles 101 cachorros. Ao menos os dálmatas viveram felizes para sempre.