sábado, novembro 26, 2011

Um ponto de vista sobre The Red Shoes

Mês Kate Bush - 23

 


Ao longo deste mês especial dedicado a Kate Bush estamos a apresentar aqui algumas visões pessoais sobre títulos da sua discografia. Hoje é Daniel J Skramesto, autor do blogue Actas do Pequeno Almoço, quem apresenta o álbum de 1993 The Red Shoes.

Tenho sempre a impressão de que The Red Shoes é o patinho feio entre o bando de imponentes cisnes que são os álbuns de Kate Bush. Mas, por mais que o tempo passe, nunca vai chegar a cisne. É um álbum que tem tudo para não funcionar. E, de facto, não funciona.
Começa pela capa que combina a frente das sapatilhas de ballet com a traseira cheia de frutas tropicais. E o conjunto de canções, ao contrário da maioria dos seus álbuns, é mesmo uma salada de frutas. Abre com uma desastrada tentativa de soar pop (Rubberband girl), passa para a quintessência da canção-dor-de-corno (And so is love), salta para um momento calypso (Eat the music), torna-se intímo e autobiográfico (Moments of pleasure), tem uma inspiração bíblica e angelical (The song of Solomon, Lilly) e vai-se sempre metamorfoseando assim por diante, das formas mais inusitadas, até conseguir sintetizar este espírito saladeiro numa única canção, Why should I love you? que volta a reunir a senhora Bush com as vozes búlgaras mas temperada com Prince. É como aqueles dias em que nos distraímos e pomos sal no café em vez de açúcar. Achamos curioso, divertido para variar, mas anda próximo do intragável e não é coisa para repetir.
Fica então a precisamente a pergunta: porque raio havemos nós de amar este disco?
Pessoalmente, gosto dele precisamente porque mostra o lado mais humano (porque erra) de Kate Bush. O pé descalça a sapatilha de ballet e enfia o chinelo. E, ouvidas uma a uma, tem canções brilhantes. Há momentos de arrepiar, como aquela mistura de guitarras distorcidas com violino de Big Stripey Lie. E… termina com You're the one que não se recomenda a ninguém a passar por tempos mais sentimentais.
A própria Kate achou que havia por aqui coisas que valia a pena salvar e são principalmente as canções deste disco que justificam o recente Director's cut. Por mim, não havia necessidade, mas é sempre bom ver alguém mudar de ideias. Se "now we see that life is SAD, and so is love" passou a "now we see that life is SWEET, and so is love", por mim está bem.