quarta-feira, novembro 30, 2011

Porque isto é (mesmo) um filme


Chegou a Cannes escondido numa pen, dentro de um bolo e foi um dos casos do festival. Mesmo com ordem para estar calado, e fechado em casa, o realizador iraniano Jafar Panahi fez um filme . E o mundo pode vê-lo e tirar conclusões acerca do seu caso... Recentemente estreado entre nós em sala, Isto não é um Filme está já disponível em DVD.

As mordaças podem forçar o silêncio, mas não calam quem, quando pode, ainda tem voz. E sabe como a usar. Ou tem ainda como a poder usar... Foi o que aconteceu com Jafar Panahi. Condenado a seis anos de prisão e a uma longa interdição de filmar não pareceu muito dado a respeitar o que, na verdade, não é senão uma falta de respeito pela liberdade que costuma caracterizar a criação artística. Em casa, enquanto esperava o veredicto, e ia conversando com quem tratava da sua defesa, medindo os cenários que poderia ter pela sua frente, não deixou de ter o cinema como parte do seu quotidiano. Acorda e liga uma câmara. Filma-se a tomar o pequeno almoço, a tratar de questões caseiras, a lidar com Iggy, a iguana da sua filha. Recebe a visita de um colega e amigo, o realizador documentarista Mojtaba Mirtahmasb. E este acaba por dar por si a filmar Jafar Panahi quando, na claustrofobia do seu moderno apartamento em Teerão, lhe explica a ideia que tem para fazer um filme sobre alguém que está fechado em casa... Um filme sem fazer um filme, explica. Contado. O seu filme... E que na verdade não é senão um filme sobre si mesmo. Pungente e emotivo, mesmo contido na forma como arruma o contexto no texto, Isto Não é um Filme não só é um filme que marca a história de 2011 como mostra que o silêncio não é opção.