quarta-feira, novembro 23, 2011

Novas edições:
Osso Vaidoso, Animal


Osso Vaidoso 
“Animal” 
Optimus Discos 
4 / 5 

O osso pode ser vaidoso de nome, mas a música que nos traz é descarnada, simples, directa. Não desossada, mas reduzida, mais que ao osso, à medula que mora no seu interior. Primeiras palavras para entrar no universo deste Osso Vaidoso, uma dupla que reúne velhos amigos (e colegas de trabalho). São eles Ana Deus e Alexandre Soares. Trabalharam juntos, em tempos, nos Três Tristes Tigres (um dos melhores projectos nascidos no Portugal dos noventas), ela revelada anos antes nos Ban, ele na primeira formação dos GNR (deu de resto a voz a Portugal na CEE, há precisamente 30 anos). Osso Vaidoso é um espaço algo diferente para ambos. Mas claramente caracterizado por marcas da presença de ambos. Minimalista nos recursos, a música que apresentam em Animal, o seu álbum de estreia, é na essência um diálogo entre uma voz e uma guitarra, ocasionais elementos surgindo depois numa cenografia não menos espartana. A palavra destaca-se. Pelas canções, que Ana Deus aborda vocalmente entre a fala e o canto, passam poemas de Alberto Pimenta, valter hugo mãe e, sobretudo, Regina Guimarães (parceira de outros tempos na primeira formação das Três Tristes Tigres), esta última encontrando ponto de partida para alguns dos textos em conversas “reais” ora entre escritores e “zangados com a leitura” (no pungente Matematicamente), emigrantes portugueses na Picardia (em Madame) ou com jovens da Qualificar para Incluir, no Porto (Um e o Muito). A guitarra, de Alexandre Soares, sabe escutar as palavras, acompanhando-as com contenção, ora assumindo apenas uma ideia de esqueleto que as sustenta (seguindo caminhos que lembram por vezes as opções mais minimalistas de uma PJ Harvey), ensaiando noutros instantes, como em Bem Mal, uma noção mais clara de melodismo complementar às linhas vocais. Com as presenças de João Pedro Coimbra (dos Mesa e, em tempos, baterista nos Três Tristes Tigres), Tó Trips e Gustavo Costa, o Animal do Osso Vaidoso é coisa não amestrada, crua, directa, intensa e absolutamente envolvente. Há muito que a música eléctrica feita em Portugal não ouvia um disco assim.

PS. Chamada de atenção para o facto de hoje, pelas 23.00 horas, o projecto Osso Vaidoso apresentar a sua música no Cafe Lusitano, no Porto. A 15 de Dezembro estarão no Music Box, em Lisboa.