Heróis do Mar
“Heróis do Mar 1981-1989”
EMI Music
5 / 5
“Heróis do Mar 1981-1989”
EMI Music
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Cinco soldados. Tocaram tambores. E todos dançaram, na terra. Adaptação livre das palavras escutadas no refrão de uma das canções do álbum Mãe (1983), dos Heróis do Mar, podia ser um retrato rápido de memórias de um dos casos superlativos da história pop/rock cantada em língua portuguesa. Não o retrato único, que outros destinos e valores passaram pela sua música, mas entre estas palavras cruzava-se a aura disco-militar que passou pela alma da banda (pelo menos na primeira etapa da sua carreira), uma noção de festa e apelo à dança (que invariavelmente cruzou grande parte dos seus singles) e uma ligação ao seu espaço e tradições, desse convívio entre uma consciência de raiz e heranças e uma visão pop que almejava a modernidade nascendo uma música que marcou o seu tempo (e deixou descendência). Há precisamente 30 anos, a 25 de Novembro de 1981, subiam ao palco do Rock Rendez Vous para dar a conhecer não apenas a música do seu primeiro álbum (que então era editado), mas também uma proposta pop capaz de agitar e marcar o seu tempo como a emergente cena pop lusitana ainda não tinha visto. Recorde-se que estávamos a pouco mais de sete anos de distância da revolução e, depois de vivida uma etapa de claro protagonismo da canção política e de um renascimento do peso da canção ligeira (ainda em finais dos anos 70), só perante os alvores dos oitentas o panorama musical português acolheu, com peso e representação social, o nascimento de uma verdadeira cultura jovem (com natural protagonismo de novas expressões musicais). Se o punk fora caso quase silencioso num mapa de acontecimentos ainda longe de preparado para lhe dar devida repercussão (o que fez dos Faíscas um caso importante no contexto, mas alheado da atenção popular), e se os dias do pós-punk prepararam terreno (daí, novamente, o papel crucial da visão de uns Corpo Diplomático), aos Herós do Mar coube o “fado” de serem a banda certa na hora certa. O seu álbum de estreia juntava uma atenção para com as formas contemporâneas a referências do espaço, cultura, vivências e língua do país. Escutando desde logo uma certa melancolia fadista (que aprofundariam mais tarde no magnífico Fado, de 1986) ou uma relação com heranças de África (a que regressariam, em 1988, numa parceria com Waldemar Bastos em Africana). 30 anos depois a obra dos Heróis do Mar recorda-se numa caixa. Que junta o visionário Heróis do Mar (1981) ao som mais electrónico e arrumado, mas seu herdeiro directo em Mãe (1983), passa depois pelo mais experimental e novamente desafiante Macau (1986) e desemboca no mais sofisticado, mas menos focado Heróis do Mar IV (1988). Um quinto disco, Singles 1982/1987, soma os momentos de glória a 45 rotações, mais festivos e dançáveis (e de maior sucesso) que foram Amor (1982), Paixão (1984), Alegria (1985) e O Inventor (1987), o mini-LP de alma mais eléctrica O Rapto (1984) e o lado B de Fado (só faltam mesmo a mistura sete polegadas de O Inventor e as versões em inglês de Amor e em espanhol de Paixão, oferecidas num single extra do mini-LP de 84 para a coisa ser mesmo perfeita). A grande novidade da caixa, além do belo booklet (com o devido e bem elaborado texto de contextualização, mais fotos que ajudam ao era uma vez que se conta e as letras de todas as canções), é um DVD que junta os telediscos a uma mão cheia de actuações televisivas. Que o exemplo fique para outras “integrais” do género que há ainda por fazer na devida fixação da memória dos grandes episódios da história pop/rock em português.