quarta-feira, novembro 02, 2011

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Chrysta Bell, This Train


Chrysta Bell 
"This Train" 
Rose Noire 
3 / 5 

David Lynch mora em várias frentes nesta recta final de ano. Uma curta na Viennale. Um documentário em preparação. Um (muito recomendável) álbum em nome próprio. E mais um outro disco, este em parceria com Chrysta Bell. Apresentados por amigos comuns, compuseram uma canção logo no dia em que se conheceram. This Train, o álbum, aprofunda o relacionamento a um patamar de entendimento evidente, a voz suave e sonhadora de Chrysta Bell parecendo em tudo ajustar-se às visões cénicas criadas por Lynch que, aqui, se assume essencialmente como produtor. Apesar de não fechado rumo a um único destino, o álbum de Chrysta Bell segue essencalmente caminhos feitios por uma pop ambiental e melancólica. Sentem-se, apesar das diferenças tímbricas entre as cantoras (Chrysta Bell num registo mais grave), afinidades para com os trilhos que em tempos o mesmo David Lynch desenhou, então ao lado de Angelo Badalamenti, nos dois álbuns que gravaram com Julee Cruise entre 1989 e 1993. Chrysta Bell não é uma estreante nestas lides. Militou inclusivamente numa banda que juntava música a uma certa atitude performativa, o esforço vocal, juntamente com o trabalho no espaço preparando-a para enfrentar a criação deste disco que, em entrevistas, a cantora explicou já que Lynch trabalhou como se fosse um filme. Ao longo de 11 canções desenham-se quadros e climas, a voz de Chrysta Bell ajustando-se magnificamente aos instantes mais assombrados e mal iluminados de This Train, I Die ou Polish Dream e responde à altura do desafio em Real Love (onde Lynch se aproxima dos ambientes do seu Crazy Clown Time), mas perde na comparação com Julee Cruise em climas à la Twin Peaks em Swing With Me ou Down By Babylon e, tropeça mais ainda na forma como aborda uma canção que evoca ecos mais clássicos em Right Down To You, o segundo equívoco do alinhamento chegando ao som da inconsequente incursão em terreno pop em The Truth Is... Não é má estreia. Mas mais que um belo álbum, uma escolha mais criteriosa entre o alinhamento teria dado um EP bem mais interessante.