Khonnor
“Handwriting”
Type Records
(2005)
A liberalização do acesso a novas tecnologias ao serviço da criação e gravação de música permitiu a entrada em cena de uma multidão de novos músicos (e novas ideias) ao longo da década dos noventas. Sem a necessidade de um espaço de ensaio convencional, podendo a coisa existir numa relação solitária entre o músico e as máquinas, muitos criadores “de quarto” inventaram novos caminhos, ao mesmo tempo expressando verdades interiores, procurando espaços de busca de uma indentidade, tacteando formas de comunicação talvez para si mais fáceis que o clássico registo do diálogo face a face. É neste clima que nasce Handwriting, o primeiro (e até este momento únicio) álbum de Khonnor. Natural do New Hampshire, Connor Long (nascido em 1986) tinha apenas 18 anos quando revelou ao mundo um álbum criado na solidão do seu espaço, apenas com a companhia de um velho computador, um microfone, um amplificador e uma guitarra. Já tinha antes apresentado primeiros EPs sob os nomes I Cactus. Grandma ou mesmo Khonnor. Mas é com Handwriting que se faz notar. O disco, de formas lo-fi, é dominado por uma melancolia aterradora que se expressa não apenas nos tons menores que correm pela música mas pelas palavras desencantadas que contam histórias onde a dor é presença habitual. De um minimalismo evidente no recurso a elementos cénicos, muitas vezes as canções brotando de ténues batidas e discretas linhas na guitarra ou electrónicas, Handwriting é uma viagem consentida ao mundo privado de um solitário. É percurso feito entre pequenos acontecimentos e silêncios. Coisa frágil, melancólica, a voz sussurrada e desencantada completando o quadro emocional. Foi um dos mais belos discos desse ano. Pena que, apesar dos EPs que continuou a editar, Handwriting nunca tivesse conhecido o episódio de continuação que se justificava.