Este é o Freud (Viggo Mortensen) de David Cronenberg, em Um Método Perigoso. Há aqui uma avalancha de acontecimentos que mereciam ser noticiados. Eis alguns:
1 - um cineasta ousa abordar as raízes da psicanálise sem se submeter ao determinismo moralista de muitas (tele)biografias.
2 - um actor compõe Freud, não como uma mera transcrição dos compêndios de história, mas como personagem activa do seu próprio pensamento (a demanda do prazer e os charutos, hélas!).
3 - a personagem e a sua esfinge (que Freud visitava no Belvedere, Viena) definem um método de pensamento e acção em que a crueza do real se enreda com o labirinto das heranças mitológicas.
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Nada disto é motivo de notícia nos jornais, telejornais e afins... E, no entanto, hoje, do muito sério Variety ao mais medíocre recanto "cinéfilo" da Internet, repete-se a grata notícia: as receitas do novo episódio da saga Twilight ultrapassaram os 500 milhões de dólares!
E depois? Não é a notícia enquanto tal que importa discutir. É, isso sim, esta agonia economicista com que, todos os dias, o cinema é apresentado e celebrado como se se esgotasse nas folhas de deve & haver de um qualquer contabilista... A informação que celebra de forma passiva estas proezas favorece, nem que seja por distracção, a morte do cinema e o gosto dos filmes.
E nada disto tem a ver com o facto de, pela minha parte, considerar Twilight uma lamentável banalidade. Assistimos a este fenómeno também em torno de filmes admiráveis. O que está em causa é a redução do fenómeno cinematográfico a uma mera acumulação de estatísticas, tão esquemáticas que nem sequer tentam compreender o labirinto financeiro da produção cinematográfica.