domingo, outubro 30, 2011

Sibelius, segundo Inkinen



Quarto (e derradeiro) volume da integral sinfónica de Sibelius pela New Zeland Symphony Orchestra, dirigida por Pietari Inkinen. Edição pela Naxos. 

Acharam os ditadores do gosto que a música de Sibelius era coisa que não interessava. Acharam sobretudo os que abraçaram o modernismo que ganhou espaço em muita da produção musical posterior aos anos vinte do século XX. Avançando alguma da nova música europeia para a atonalidade, segundo ideias desenvolvidas pela segunda escola vienense, o compositor finlandês mantivera-se fiel a uma escrita tonal e todo um conjunto de referencias ora escutadas entre a tradição romântica ora escutadas entre uma ideia de “alma” local (que dele fez a voz maior da música do seu país)... Era como se um crítico hoje decretasse que a música de Leonard Cohen era um disparate por não usar as técnicas de produção de um James Blake. Ou que não fazia mais sentido haver orquestras porque a nova música pode ser feita com electrónicas... Nah!... Adorno chegou a escrever em 1938 um artigo onde deixava claro que, se se considerasse como “boa” a música de Sibelius, isso “invalidaria” todos os “padrões de qualidade musicak” desde Bach a Schoenberg... Não foi o único, tendo o musicólogo Frank Leibowitz decretado que Sibelius era “o pior” compositor... Eram as suas opiniões. Respeitadas como quaisquer opiniões. Mas longe de unânimes (e longe de terem razão, mas enfim...).
O tempo acabou por dar a estas atitudes apaixonadas um lugar bem guardadinho nos livros de história da música. E a Sibelius a visibilidade que a sua bela obra de facto merece, os catálogos discográficos e os programas de concertos dele fazendo (justificadamente) um dos mais visitados entre os grandes sinfonistas do século XX.
Não têm faltado por isso novas abordagens à sua música, entre elas destacando-se a integral que, desde 2010 a Naxos tem dedicado à sua obra sinfónica, numa série de gravações pela New Zeland Symphony Orchestra, dirigida pelo maestro finlandês Pietari Inkinen. O quarto (e daerradeiro) volume deste ciclo acaba de ser editado, juntando as sinfonias números 6 e 7 e o clássico poema sinfónico Finlandia (de 1900, um marco na afirmação de uma identidade musical local). De 1923, a Sinfonia Nº 6 é uma obra essencialmente tranquila, pontuada em alguns instantes por motivos que podem ter sido inspirados pela paisagem rural finlandesa. De 1924, a Sinfonia Nº 7 é uma obra desafiante na sua estrutura interna, feita de apenas um andamento (em alternativa à estrutura habitual da escrita sinfónica), não deixando todavia de reflectir espaços de contraste. Foi a última sinfonia que compôs. Sabe-se que chegou a trabalhar numa oitava e que destruiu parte do que escreveu já nos anos 40. De resto, confrontado com o tipo de reacções adversas à sua obra, Sibelius quase nada escreveu nos últimos 30 anos da sua vida e nem da sua música gostava de falar...