sexta-feira, outubro 28, 2011

Reedições:
GNR, Defeitos Especiais


Este texto é uma versão editada (e actualizada) de um outro aqui publicado no Sound + Vision em Janeiro de 2008.

GNR 
“Defeitos Especiais” 
EMI Music Portugal 
4 / 5 

Em Janeiro de 2008 dizia aqui no Sound + Vision que o segundo álbum dos GNR, Defeitos Especiais (EMI, 1984) era, porque até então nunca editado em CD, uma das mais injustamente “esquecidas” pérolas da pop portuguesa de 80. E eis que três anos depois a discografia dos GNR conhece, finalmente, uma integral editada em CD (num lançamento via DN e JN), sem que Defeitos Especiais fique de fora. Sucessor do magnífico Independança (álbum de estreia, editado em 1982), o segundo LP dos GNR reflecte uma opção por caminhos atentos ao que eram as formas pop do seu tempo, seguindo afinal ideias já presentes em canções da face A do disco anterior. Este é também um álbum mais consciente da personalidade (em franca afirmação) da escrita e voz, de grande personalidade, de Rui Reininho. Por outro lado assinala-se um afastamento do grupo face a eventuais novas incursões por terrenos de vanguardismo pop como haviam feito em Avarias, a longa faixa única que dominara todo o lado B do primeiro álbum e que surgira, em versão edit, no single Hardcore (1º Escalão). Defeitos Especiais não é, contudo, um espaço de desistência de uma vontade de manter vibrante uma ideia de invenção pop, reflectindo muitas das suas canções um gosto pelo ensaio de molduras desafiantes, assegurando o alinhamento uma coexistência cativante entre momentos de ensaio formal, como se reconhece no belíssimo híbrido de tempero “mouro”, de travo fadista (com, inclusivamente, uma citação da Canção do Mar) de Muçulmania, na utilização curiosa das electrónicas em A Última Vaga ou na exploração da voz falada no contagiante Pershingopolis. Ao mesmo tempo habita aqui uma tranquila relação com modelos mais radio friendly (mesmo assim atentos aos códigos das linhas da frente do seu tempo), como se escutava em Desnorteado, Mau Pastor ou I Don’t Feel Funky Anymore. Esta última canção, escolhida como single, representa o único instante do álbum não cantado em português. De certa forma, este tema assegura uma ponte directa com o álbum de estreia, nomeadamente com o bem sucedido single dele extraído, Hardcore (1º Escalão). O disco nasceu num momento de mudanças internas para o grupo. Victor Rua saíra para os Telectu. O panorama pop/rock nacional vivia uma certa reacção (quase em jeito de ressaca) ao “boom” de inícios da década. Rui Reininho chegou a apontar este como o álbum “mais Rock Rendez Vous” (nome de um clube lisboeta que então lançava as novas ideias no panorama pop/rock nacional). Na verdade conseguiram aqui um dos momentos mais marcantes da sua obra, um tanto injustamente esquecido pela sua ausência ditada pela falta (até aqui) de uma edição digital. Com essa ordem reposta, eis que volta a cena uma das pérolas maiores do pop/rock made in Portugal na primeira metade dos oitentas.