Este texto é uma versão editada (com opinião acrescentada) de um outro originalmente publicado na edição de 16 de Outubro do DN com o título 'Regressar a uma obra, agora com orquestra'.
Peter Gabriel
“New Blood”
Real World / EMI Music
3 / 5
Tem sido relativamente discreta a actividade recente de Peter Gabriel. E apesar de ter já lançado cinco álbuns desde o ano 2000, teremos de recuar a Us, de 1992, para recordar o seu mais recente caso de grande popularidade global. New Blood é o nono álbum de estúdio que Peter Gabriel edita em nome próprio. O disco representa uma continuação de ideias ensaiadas há um ano em Scratch My Back, álbum de versões (com originais de nomes que vão dos Magnetic Fields e Radiohead a David Bowie ou Lou Reed), em arranjos para voz e orquestra. New Blood é, à sua maneira, mais um disco de versões para voz e orquestra. Mas desta vez todas as canções são de um mesmo autor. Ele mesmo: Peter Gabriel. Sem representar necessariamente uma visão retrospectiva (apesar de percorrer todos os seus álbuns de originais, salvo o disco muitas vezes referido como Peter Gabriel 2, de 1978), New Blood recolhe temas entre a sua discografia a solo sem uma preocupação de visitar os “clássicos” que a história elegeu. De resto, entre os 14 temas que constituem o alinhamento do álbum apenas quatro – Solsbury Hill (1977), Don’t Give Up (1986), Red Rain (1987) e Digging In The Dirt (1992) – tiveram edição em single. Os arranjos são co-assinados por Peter Gabriel e John Metcalfe, as orquestrações deste último e a interpretação assegurada pela New Blood Orchestra, dirigida por Ben Foster, que acompanhou o músico inglês na sua mais recente digressão. Como convidadas vocais surgem, em Downside Up, a sua filha Melanie Gabirel e, em Don’t Give Up (na origem um dueto com Kate Bush), a norueguesa Ann Brun. Não é a primeira vez que vemos um músico a revisitar as suas próprias canções num álbum. Os Sparks fizeram-no em 1997 em Plagiarism. Recentemente Brian Wilson regravou as canções do mítico Smile, dos Beach Boys, num disco a solo. David Bowie gravou novas versões de temas da primeira etapa da sua carreira em Toy (álbum que contudo acabou por nunca editar). Já houve gravações ao vivo reinventando canções desde o minimalismo acústico (como o clássico Unplugged MTV dos Nirvana) à partilha de espaço com uma orquestra (como o fizeram os Divine Comedy nos CD singles de Everybody Knows, em 1997). Mas Peter Gabriel, que tinha já actuado com a orquestra em palcos, optou antes por uma gravação de estúdio. New Blood é, mais que o anterior Scratch My Back, um desafio. Revela, através de novos sons e dinâmicas, outras leituras possíveis para a sua música. Respira mesmo boas ideias quando pensa outras cenografias para temas como The Rhythm of The Heat ou San Jacinto, já a passagem por Solsbury Hill parecendo mais coisa para agradar ao apetite “best of” que alguns aqui entendessem procurar.