segunda-feira, outubro 10, 2011

Novas edições:
James Blake, Enough Thunder


James Blake 
“Enough Thunder” 
Atlas / Universal 
4 / 5 

Com alguns meses passados sobre a edição de um álbum sem o qual não se conta a história deste ano, vencido o desafio da estrada (provando-se que o que parecia haver de eventualmente paradoxal no levar uma música nascida em espaço recatado a palcos frente a multidões afinal não o era) , James Blake regressa aos discos com uma pequena mão cheia de novas gravações. Não se trata de um novo álbum. Ou seja, não se procura aqui o lançamento de uma nova etapa ou o desafio da chegada a um novo patamar. Antes o ensaiar de algumas ideias, numa lógica que ora escuta elementos de continuidade face a edições anteriores, ora ensaia novos caminhos e ousa enfrentar terrenos de ainda maior fragilidade (sobretudo em instantes onde, sem electrónicas por perto, James Blake se entrega a diálogos mais “clássicos” que nunca para voz e piano. Estes, em concreto, ora ganham forma numa versão de A Case Of You (de Joni Mitchell), aqui numa gravação captada ao vivo pelas BBC, ou no inédito Enough Tunder, escrito e interpretado pelo músico. Enough Tunder apresenta contudo como peça central um dueto com Bon Iver em Fall Creek Boys Choir, canção que representa um dos mais evidentes casos de descendência directa do que escutámos no álbum James Blake e que confirma a boa relação do músico (e da sua voz) com o formato da canção (tal como se escuta em We Might Feel Unsound, outro exemplo de continuidade relativamente ao álbum). Once We All Agree retoma ecos de Klavierwerke, devolvendo o piano a um patamar de maior protagonismo, mas juntando a presença de texturas electrónicas. Já Not Long Now escuta ecos (mais distantes) de linhas ensaiadas em CMYK (sobretudo no cruzar de elementos vocais adicionais), porém num regime rítmico substancialmente mais tranquilo. Em Enough Thunder James Blake assinala assim a continuação de uma obra que assim parece prometer não se fechar numa frente, mantendo os horizontes abertos por discos anteriores como destinos possíveis ou mesmo pontos de partida para uma música que continua a marcar a agenda do presente.