domingo, outubro 16, 2011

Lisboa, 15 de Outubro de 2011

Fotos: N.G.

Foi um acontecimento à escala mundial, os milhares que se juntavam em cada cidade somando-se aos mais milhares das outras em seu redor gerando uma ideia de descontentamento que assim transcende questões políticas locais (sem as ignorar, naturalmente), mas que dá a noção de um levantamento generalizado crítico do funcionamento de um sistema que, como verificamos desde 2008, tem sido o motor para sucessivos descalabros em várias latitudes. Se é o princípio do fim de qualquer coisa, se o ponto de viragem para outra, se é episódio que vai abrir caminho à expressão politicamente materializada das críticas que se levantam, se pelo contrário os poderes vigentes tomarão medidas que atentem a futuras manifestações com a liberdade de expressão que esta demonstrou, é coisa que só o tempo e próximos episódios trarão resposta. Para já o concreto foi a soma não apenas das multidões descontentes e (salvo em Roma) pacíficas, mas das suas palavras e preocupações. E se o mapa económico mundial é assim posto em causa, por aqui (e falo de Lisboa) as medidas anunciadas esta semana perante o apregoado “desvio colossal” (ainda por explicar e que, por enquanto, deveria ter tanto valor quanto o que teve a ideia do país em “tanga” de há uns anos atrás) foram alvo central de grande parte das críticas. Mais que uma reflexão sobre sociologia das multidões ou sobre o questionar de modelos económicos, deixo antes uma série de imagens através das quais é possível olhar alguns instantes do 15 de Outubro lisboeta, pelos lados de São Bento.




Os cartazes. Houve-os de todas as formas e graus de perfeccionismo. Mais lo-fi que hi-fi. Porque o que contava era mais a partilha das ideias, o lançar de frases de ordem e o expressar de descontentamentos que uma eventual candidatura ao momento “world press photo” com design pelo meio... Havia frases que se repetiam. Havia uma representação de preocupações que ia para lá da nossa fronteira (Islândia, por exemplo). E até os cães participaram...




Multidão. Eram muitos. Muitos, mesmo... De vários países, de várias idades, de várias profissões. E até com destinos diferentes na cruz do voto nas últimas legislativas. Uns maquilhados. Outros em traje de passeio. Uns com bombos e trombones. Outros com máquinas fotográficas... Porque, na era das redes sociais, uma manifestação é acontecimento que se partilha duas vezes: no local e, depois, entre as fotos (e palavras) que se lançam entre amigos, pelo computador, via Internet...
 



Gestos. Entre a multidão cada um somava aos demais a sua voz. Cada qual sendo mais um entre os que moravam ao seu lado. E na hora de clamar, a linguagem gestual juntava aos sons e aos corpos uma espécie de dança rebelde, um baile do descontentamento generalizado. Talvez sem música. Mas  com letra...




Notícias. A imprensa esteve presente. Jornalistas atentos ao que se sabia seria a abertura dos noticiários e as primeiras páginas dos jornais do dia seguinte. Olhando, captando imagens, escutando o acontecimento ao vivo e em directo.




A solo. Porque há sempre quem se destaque entre os outros. Imagens a solo, entre muitos. Mas não de solidão...


Eram milhares. As somas da organização apontam números na ordem dos cem mil em Lisboa.