quinta-feira, outubro 27, 2011

DocLisboa 2011 (dia 8)


A história dos movimentos musicais deve muito a quem cria a música (naturalmente!). Mas para que a música deste mais daquele mais daquela e daqueloutro somem, juntas, uma ideia de acontecimento comum (e não são isso os movimentos?), faz falta depois um elemento exterior que os une ou junte, captando atenções comuns e dando conta de que alho ali está a acontecer. Assim foi com o punk no mítico CBGB em Nova Iorque, com os neo-românticos no londrino Blitz ou com o psicadelismo (facção Londres) nas noites UFO em 1966. Os singer-songwriters não são invenção de finais dos anos 60. Já os havia, até mesmo com discos editados, conhecendo em alguns bares do Greenwich Village e na própria Washington Square (em Manhattan) alguns focos de atenção... Mas a tomada de consciência (inclusivamente das grandes editoras discográficas e, logo depois, o público maintream) de que ali havia outra escola de canções a seguir com atenção chega quando, entre finais de sessentas e inícios de setentas um bar do Sunset Boulevard (em Los Angeles) os toma como ingrediente único na ementa do seu palco. O The Troubadour tinha história já desde finais dos anos 50, mas é ao som de novas vozes e de canções que contavam histórias que Doug Weston encontra não apenas a chave para o definitivo sucesso do seu bar e, para esse nova geração de músicos, um decisivo palco de lançamento.

Troubadours, de Morgan Neville (passou ontem no DocLisboa) é um olhar sobre essa mesma geração de vozes, tomando o clube de Doug Weston como palco que centra as narrativas que recorda. O filme parte, na verdade, de um reencontro de Carole King com James Taylor nesse mesmo palco onde, há perto de 40 anos, deram importantes passos para o definitivo lançamento das respectivas carreiras. Carole King, a menina que antes escrevia canções para outras vozes no Brill Building em Nova Iorque e James Taylor, que dera primeiros passos no catálogo da Apple Records (sim, a dos Beatles), reinventaram-se ao dar antes voz a sim mesnos e não ao que de si esperavam, a passagem pelo palco daquele bar em Los Angeles tendo acontecido como a opção certa na hora certa. A história que o filme conta passa depois por nomes como os de Joni Mitchell, Jackson Browne, Chris Kiristofferson, Bonnie Riatt... Por Bill Crosby, dos Byrds... Pelo nascimento dos Eagles. Pelo arranque de carreira de Elton John. Pecando por, de tão centrada na vivência daquele bar, passar a leste de outros importantes cantautores da mesma geração como o foram Tim Buckley, Nick Drake (nome com carreira uma realidade bem diferente, é certo) ou mesmo Leonard Cohen.

Com uma linguagem televisiva, Troubadours é mesmo assim um interessante olhar por uma época, contando como valor acrescentado o impressionante lote de depoimentos que congrega. Tem história, tem personagens, tem música. Falta-lhe apenas... cinema.


Hoje o DocLisboa apresenta Abendland, filme de Nikolaus Geyrhalter que é apresentado no site oficial do festival como sendo “um poema filmado sobre um continente à noite”. Passa às 20.00 horas no Cinema São Jorge e repete amanhã, também ali, pelas 19.00 horas.

Podem ver aqui a restante programação para hoje.