terça-feira, outubro 25, 2011
DocLisboa 2011 (dia 6)
Um primeiro olhar, de longe, mostra daquelas paisagens que, mais que postalinhos, lembram mais aquelas imagens paradisíacas que muitas vezes forram paredes de agências de viagens. O mar azul claro, tranquilo. Pequenas porções de terra, palmeiras... A aparente tranquilidade. Assim de facto foi durante anos. Mas para os cerca de 400 habitantes dos farrapos de terra acima do mar no atol de Takuu este é um velho paraíso quase perdido... para as águas. Com pouco mais de um metro acima do nível médio das águas do mar, muitos dos espaços da ilha onde moram dão-nos primeiros sinais de uma realidade que é factual: o nível das águas oceânicas está a subir. E aquele que foi o espaço de vida de gerações de famílias tem uma ordem de evacuação como cenário quase certo de um futuro próximo. There Once Was An Island, de Briar March (passa hoje às 16.15 no Cinema Londres e repete dia 29) é o retrato do que foi e não volta a ser.
Estamos em Takuu, um pequeno atol que integra as chamadas ilhas Mortlock (Papua Nova Guiiné). A câmara começa por olhar o lugar, as águas em volta, as palmeiras, as casas e cenas da vida quotidiana... Mas logo entre os primeiros planos sente-se a falda de algo que, anos de ver fotografias e filmes habitualmente associamos a estes cenários entre tantos atóis do Pacífico: um areal... Um dos habitantes conta que o areal que conhecera em menino desapareceu e que hoje tem de fazer muros para proteger a casa das ondas, quando a maré sobe. E as câmaras estão lá num dia em que o mar galga terreno mais que o habitual, as ondas entrando casas adentro, levando um pouco de tudo, até mesmo os livros da escola. Um oceanógrafo e um especialista em geomorfologia estavam por ali, convidados pela população, a estudar o fenómeno. Com a voz informada de quem usa a ciência para explicar os factos, alertam para que estas situações se possam repetir e que o que ali se passa não é algo apenas da região, mas um fenómeno de maior escala. Aconselham a deslocar as casas para os pontos (levemente) mais altos da ilha. Sendo que entre a população se aprofunda o debate: ficar ou mudar de casa? Um mudar que implica o deixar de um lugar (e da sua cultura e modo de vida), com nova possível casa numa outra ilha, mas sob uma realidade bem diferente (sobretudo sem as características da economia de subsistência de uma população que até aí não conhecera a noção de posse, tudo sendo na verdade partilhado entre todos).
Sem afogar o filme em entrevistas, Briar March opta antes por acompanhar o dia a dia da ilha, as visitas ao “jardim” numa ilha adjacente, instantes de pesca... Observa (e vai escutando) quem ali está e o que diz. Mas olha atento para as águas, para o que é uma evidente perda gradual da terra perante o avanço do mar... No fundo, mostrando primeiras consequências de comportamentos desequilibrados da sociedade contemporânea. Deixando no fim um alerta. Porque, o que parece drama distante na Polinésia, na verdade é expressão de um fenómeno global. Sendo que, até 2050, como diz o filme a dada altura, muitos mais serão aqueles que a subida da água irá desalojar, um pouco por todo o mundo fora.
Uma outra ilha está igualmente em destaque hoje no DocLisboa. Trata-se da ilha do Corvo, o espaço visitado por Gonçalo Tocha no filme É na Terra, Não é na Lua, que foi recentemente distinguido em Locarno e que hoje passa pelas 21.00 horas na Culturgest. O filme repete dia 29. Amanhã podem ler aqui sobre este filme cujo visionamento recomendamos desde já.
Podem ver aqui a restante programação para hoje.