sábado, outubro 29, 2011

DocLisboa 2011 (dia 10)


O hip hop é para alguns visto como uma voz para quem não a tem de outra forma. De facto pode não requerer grandes meios, bastando um microfone e um fundo instrumental. Se bem que, não sejamos ingénuos, raros são os acontecimentos musicalmente marcantes, e já mesmo desde finais de 80, nascidos de tão rigorosa dieta de meios. Mas foi assim no início. E no início o que valia era mesmo o verbo. Daí que seja importante encarar o documentário de Joshua Atesh Litle como uma visão de parte desta realidade, estando de resto fora da sua agenda um eventual panorama sobre o vastíssimo espectro de expressões em que hoje o hip hop se manifesta.

Hip Hop, le Monde est à vous, do norte-americano Joshua Atesh Litle (passa hoje pelas 22.00 horas no Cinema São Jorge), é, acima de tudo, um olhar sobre o hip hop como forma de expressão de uma inquietude política e/ou social em vários pontos do globo. Começamos por ver evocações das primeiras expressões no Bronx, nos anos setenta. Mas antes mesmo da história chegar ao patamar de exposição desta música emergente, que fez de Rapper’s Delight o seu primeiro “caso” mediático (em 1979), saltamos para França onde encontramos os primeiros focos de expansão da ideia nos dias dos oitentas. Mais adiante rumamos à Alemanha. E em ambos os espaços é entre emigrantes (em segundas e terceiras gerações) que escutamos narrativas de desajustamento, dificuldade de integração e discriminação que encontram no hip hop uma forma de comunicação. De partilha entre iguais, de crítica e alerta para mais adiante. Vemos depois como o hip hop serve para escutar os que vivem dos dois lados do muro que faz notícias em volta de Ramallah. Ou, mais adiante, como reencontra a raíz remota dos griots africanos no Senegal dos nossos dias.

Hip Hop, le Monde est à vous parece contudo mais interessado em abordar conteúdos que formas (são as palavras e os temas que, na verdade, estabelecem as diferenças geográficas entre os casos que descobrimos no ecrã). E não procura senão figuras que encaram o hip hop como uma voz de protesto. Da música, por sua vez, quase nem sequer se fala... O filme revela uma interessante recolha de depoimentos, mas fecha o ângulo num ponto de vista único. É uma opção. Mas no fim acaba por saber a pouco...

Podem ver aqui a restante programação para hoje.