quinta-feira, outubro 20, 2011

Discos pe(r)didos:
Vangelis, Invisible Connections


Vangelis 
“Invisible Connections” 
Deutsche Grammophon 
(1985) 

Sem um único instante discográfico realmente cativante desde meados dos anos 80, o grego Vangelis Papathanassiou (que desde cedo passou a assinar apenas como Vangelis) tem contudo importante obra, quer entre memórias prog nos anos 70 como, de meados de 70 a meados de 80, um papel na construção de espaços de afirmação das electrónicas num espaço da música popular para lá das fronteiras da canção pop, em alguns dos casos em trabalhos de escrita de bandas sonoras. Militou nos Aphrodite’s Child (de 1967 a 72), mas foi a solo que registou álbuns como Heaven & Hell (de 1974, ainda algo próximo das dinâmicas do progressivo e do qual surgiu parte da música da série Cosmos, de Carl Sagan) e Albedo 0.39 (de 1975), peças que devemos juntar a outros esforços pioneiros na exploração dos sintetizadores no quadro dos acontecimentos não vanguardistas de então. Apesar de ter encontrado o seu terreno de acção mais evidente entre os espaços de claro relacionamento com um grande público e com o cinema (assinou, por exemplo, a belíssima banda sonora de Blade Runner, de Ridley Scott, em 1982), Vangelis não fechou as portas a ensaios e experiências. E entre 1978 e 1985 editou um trio de álbuns nos quais procurou ideias e formas além das suas fronteiras mais habituais. Foram eles Beaubourg (1978), Soil Festivities (1984) e Invisible Connections (1985), este último lançado no catálogo da Deutsche Grammophon e hoje uma peça relativamente difícil de encontrar. Longe de procurar uma demanda pelos caminhos de um vanguardismo que nos anos 50 a 70 Stockhausen e outros mais exploraram com novas ferramentas electrónicas, Vangelis ensaia em Invisible Connections uma ideia diferente de música abstracta procurando sobretudo a criação de texturas e pequenos acontecimentos, quase como se tivesse imagens de um filme de ficção científica para ilustrar com música. O álbum inclui apenas três peças onde uma noção de espaço abre terreno a uma sucessão de acontecimentos, que vão da sugestão de eventuais linhas e padrões a meros efeitos de som. É uma música diferente, “espacial” (diremos, pela associação ao maquinal e ao imaginário sci-fi), mais centrada na sugestão de climas e ambientes que na construção de formas nítidas, condutoras de uma qualquer ordem maior ou mesmo narrativa. É um disco desafiante. E, acima de tudo, intrigante.