Leslie Winer
"Witch"
Transglobal Records
(1993)
Quantos nomes a história acaba por esquecer porque, ou não deram continuidade aos seus projectos ou porque, de tão afastados dos focos mais mediáticos na origem, nunca emergem devidamente a um patamar de maiores (e justificadas) atenções. Leslie Winer sentiu na pele estes dois cenários. Com carreira iniciada como modelo, trabalhou depois com nomes como William S. Burroughs ou Jean Baptiste Basquiat... Até que, em inícios dos noventas, se aventura pela música, criando um álbum que, apesar de na altura nunca ter ido além do espaço vivencial de alguns seguidores mais atentos de realidades nascidas nas periferias do hip hop, acabou na realidade por traduzir uma visão algo familiar à que, por essa altura, os Massive Attack criavam nos seus primeiros discos (daí ter sido apontada, a dada altura, como a madrinha do trip hop).
Na verdade há pontos em comum, sobretudo na lógica de construção de uma música que toma a tranquila soma de samples como tijolos estruturais e um clima dub como cenário. Mas há caminhos que ao mesmo tempo afastam Witch do que então escutávamos em Blue Lines ou Protection. Há uma postura vocal que aceita heranças nova iorquinas, da prosódia vocal de um Lou Reed ao gosto pelo contar de histórias, em regime spoken word, de uma Laurie Anderson. A instrumentação é escassa, as composições essencialmente assentes numa arquitectura de elementos rítmicos e samples (um de Captain Beefheart domina o irresistível 1nce Upon a Time) e o trabalho vocal. Sendo todavia notória, e estruturalmente significativa, a presença do baixo, com alma tranquila, de Jah Wobble.
Leslie Winer saiu de cena pouco depois, não dando nunca continuidade ao projecto encetado em 1993 com Witch, limitando as suas escassas experiências posteriores na música a colaborações pontuais. Entretanto, há poucas semanas regressou ao activo, através do projecto Purity Supreme, que co-protagoniza com o produtor francês Christophe Van Huffel.