domingo, setembro 04, 2011

Um venezuelano na Suécia


Numa caixa de três CD, a estreia discográfica de Gustavo Dudamel com 
a Orquestra Sinfónica de Gotemburgo apresenta gravações da Sinfonia Nº 9 
de Bruckner, a Sinfonia Nº 2 de Sibelius e as Sinfonias números 4 e 5 de Nielsen. 
A edição é da Deutsche Grammophon 

Há acasos que se repetem. E a Orquestra Sinfónica de Gotemburgo (segunda cidade da Suécia) já por duas vezes conheceu o seu novo director artístico por mero acaso... Em 1980 Neeme Järvi foi convidado, em cima da horam a substituir Mariss Jansons, o maestro que tinha, com a orquestra, um programa de concertos em Dublin, Aldeburgh e Londres. E porque falhara o maestro originalmente escalado? Filho de um outro maestro soviético, então em digressão no estrangeiro, Mariss viu o visto ser-lhe recusado pelas autoridades da URSS. Não de davam vistos a mais que um elemento da mesma família, temendo a dissidência... Estoniano, Järvi estava disponível, de visto na mão e avançou, acabando mais tarde convidado para chefiar esta orquestra sueca durante 22 anos, entre 1982 e 2004. A história repetiu-se quando, em 2005, perante uma indisposição de Järvi, o venezuelano (ainda longe da fama que hoje tem) foi chamado para o substituir em concertos, novamente com a Sinfónica de Gotemburgo, em Birmingham e nos Proms (em Londres). Dois anos depois também ele era chamado para assumir o cargo de director da orquestra, que hoje ainda ocupa (acumulando assim funções com as orquestras Simón Bolívar e de Los Angeles, que também dirige).

Com importante discografia registada com a Sinfónica Juvenil Simón Bolívar (que o revelou) e tendo mais recentemente lançado já primeiras gravações com a Los Angeles Philharmonic, Dudamel lança agora, finalmente, um conjunto de gravações com a orquestra sueca. A selecção de obras reflecte em tudo a genética da própria orquestra, através de um trio de compositores com os quais Dudamel ali ganhou (e aprofundou) uma familiaridade. O finlandês Jean Sibelius chegou mesmo a dirigir a sua majestosa Sinfonia Nº 2 (numa ocasião tendo até confundido o concerto com o que julgava ser um ensaio). O dinamarquês Carl Nielsen também dirigiu pessoalmente obras suas com esta orquestra. Já o austríaco Anton Bruckner era presença regular no repertório da orquestra, tendo recentemente Dudamel elogiado as qualidades da interpretação da Sinfónica de Gotemburgo no enfrentar das marcas sombrias e dramáticas do som do compositor. Os discos confirmam não apenas a personalidade interpretativa da orquestra, como vincam a incrível capacidade de adaptação de Gustavo Dudamel às mais variadas situações.

As obras aqui reunidas representam um mergulho no tempo rumo a uma janela que as separa num período de 30 anos, entre finais do século XIX e as primeiras décadas do século XX. Da dimensão colossal da 9ª Sinfonia de Bruckner aos caminhos rítmica e melodicamente inesperados da 5ª Sinfonia de Nielsen, passando pela majestade sedutora da música de Sibelius, a selecção marca de forma feliz a estreia em disco de Dudamel com a orquestra sueca que dirige há já quatro anos. E pede mais discos num futuro próximo...


Imagens de um filme de apresentação desta edição da Deutsche Grammophon