“Anthology”
4AD Records
4 / 5
O que se espera na hora de ter em mãos uma antologia? Que nos conte uma história ou, pelo menos, nos dê um retrato do que se propõe a evocar... Anthology, a comopilação agora lançada pelos Throwing Muses (muitas vezes chamávamos-lhe “as” Throwing Muses, à conta do protagonismo no feminino da banda que nasceu e viveu os primeiros anos com Kristin Hersh e Tanya Donelly como rostos de referência) não deixa de o fazer. Mas em lugar do que seria de esperar – ou seja,a habitual soma ordenada dos momentos que fizeram os momentos mais notados ou significativos da sua obra – o que Anthology nos propõe é antes um olhar por si mesmos, sobre si mesmos, a banda escolhendo não os temas “antologicamente correctos”, mas antes as canções da sua preferência... Note-se que o título deixa claro que estamos perante uma “antologia” e não um “best of”, pelo que a opção faz em tudo sentido... E pelas faixas do CD1 (ou do CD extra que junta 22 lados B, raridades e até mesmo um inédito), sugerem-se episódios de um percurso que hoje evocamos como marcante na história indie norte-americana, a sua obra (juntamente com a dos Pixies, Breeders e alguns mais) tendo assegurado uma importante etapa de transição entre os ecos do punk e uma nova ordem “alternativa” de maior visibilidade que chegaria nos noventas. Foram mesmo a primeira banda americana a assinar pelo catálogo da 4AD (numa altura em que esta era uma das mais atentas e surpreendentes das editoras independentes em acção), a sua aposta abrindo logo caminhos e cativando atenções. Talvez se sinta a falta de singles como um Dizzy ou Counting Backwards (já Bright Yellow Gun marca presença) ou de mais vasta representação dos alinhamentos de Hunkpapa e The Real Ramona (discos marcantes na sua obra, respectivamente editados em 1989 e 1991). Talvez haja mais representações da etapa mais intensa, angulosa e angustiada dos primeiros álbuns e menos traços da descoberta de novas formas de encarar o melodismo pop que o grupo foi assimilando e explorando... Mas não deixa de ser um importante retrato de um nome-chave a (re)descobrir para compreender os caminhos que o rock indie tomou na América de finais dos oitentas e inícios dos noventas.