Pink Floyd
“The Piper At The Gates of Dawn”
EMI Music
5 / 5
Assim como aconteceu há algum tempo com os Beatles, a obra em disco dos Pink Floyd conheceu um tratamento digital em estúdio, do qual resulta uma série de reedições que começam agora a chegar ao mercado. Entre as reedições conta-se, naturalmente, o álbum de estreia do grupo que, por representar o único longa-duração da banda a traduzir a etapa em que era Syd Barrett quem comandava os seus destinos, regista ideias e caminhos bem diferentes dos que, com o tempo, fizeram a essência do com dos Pink Floyd. The Piper At The Gates Of Down é, por isso, e muitas vezes, o disco dos Pink Floyd mais amado pelos que não se identificam com a restante obra da banda e o menos aclamado pelos seus mais acérrimos admiradores. É em tudo um disco diferente da demais obra do grupo, apenas no álbum seguinte – A Sucerful of Secrets, de 1968, onde pontualmente ainda colaborou Barrett – havendo marcas evidentes de proximidade com o que aqui se escutava. Juntamente com os singles Arnold Layne, See Emily Play e Apples and Oranges (não incluídos no LP), o álbum The Piper at The Gates of Dawn sublinha a importante contribuição dos Pink Floyd para a criação de uma expressão londrina da cultura psicadélica que então conhecia outro importante pólo criativo na Califórnia. O disco, editado em 1967, traduz por um lado os ecos das noites vividas entre os eventos UFO (que remontam a 1966) e outras visões através das “viagens” que podemos sentir a bordo de temas como Astronomy Domine ou o “clássico” Intersellar Overdrive. E, por outro lado, as heranças pop que habitavam na genética formadora do próprio Syd Barrett, claras nas formas de um Bike ou The Gnome. O álbum nasceu numa etapa de transição na forma de trabalhar nos estúidios da EMI em Abbey Road (que só passariam a responder sob o nome da rua depois do álbum de 1969 dos Beatles). Com sessões contemporâneas a Sgt Peppers, mas mais ajustadas ao ritmo de trabalho habitual dos estúdios que ao que os fab four começavam a talhar a seu jeito, usando ainda gravadores de quatro pistas, o álbum de estreia dos Pink Floyd conseguiu mesmo assim criar um acontecimento diferente e desafiante. Entre histórias de gnomos, espantalhos, contos de fantasia e alguma ficção científica, The Piper At The Gates Of Dawn abriu caminhos, alargou visões, afirmou o talento raro de Syb Barrett e inscreveu na história um momento que geraria importantes descendências (e que hoje é tido como um absoluto clássico do seu tempo).